O ex-deputado e ex-assessor especial do presidente Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures, afirmou em depoimento ao juiz da 15ª Vara Federal de Brasília, Jaime Travassos, que nunca abriu a mala recebida da JBS com R$ 500 mil em São Paulo, no ano passado.
O site do jornal O Globo publicou no sábado (10) reportagem com os vídeos do depoimento de Rocha Loures, prestado na última quarta-feira (07). O ex-deputado, que chegou a ser preso, é réu por corrupção passiva no processo que trata sobre o caso da mala. Ele foi filmado pela Polícia ao receber a mala, em uma pizzaria, do ex-executivo do grupo J&F Ricardo Saud – segundo o Ministério Público, o dinheiro seria propina para Temer, que sempre negou.
De acordo com delatores da J&F, o dinheiro era parte de um suborno que valeria por 20 anos, uma espécie de mesada para Rocha Loures e para Temer em troca de atuação junto ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O objetivo, segundo os delatores, era resolver uma disputa sobre o preço do gás fornecido pela Petrobras a uma termelétrica do grupo J&F.
Depoimento
Conforme O Globo, as declarações de Rocha Loures no depoimento à Justiça apresentam contradições, dentre elas com a própria defesa. Isso porque os advogados haviam apontado que o ex-deputado recebeu a mala “sem saber qual era seu conteúdo”. À Justiça, embora Rocha Loures afirme que nunca abriu a mala, ele deixa claro que sabia que havia conteúdo ilícito e disse que não queria recebê-la.
Em um dos vídeos publicados pelo jornal, Rocha Loures disse que foi ao encontro de Ricardo Saud, em uma pizzaria em São Paulo, com a intenção de encerrar as conversas, terminar a participação dele no caso e depois avisar o presidente Michel Temer.
“Quando eu saio da pizzaria, eu estou saindo da pizzaria pra ir embora, porque eu imaginei ele não está aqui, o que eu iria dizer a ele o seguinte: olha, Ricardo, eu não vou mais tratar com você, você avisa ao Joesley [Batista], eu não vou mais me prestar a esse papel, então eu vou, estou avisando a vocês, vou avisar ao presidente, a conversa terminou por aqui. Essa era a minha intenção, conversa rápida e encerrar o processo”, disse o ex-deputado.
Loures contou ao juiz Jaime Travassos que neste momento foi abordado por Saud já com a mala contendo o dinheiro. “O Ricardo tá parado ali, estacionado do lado do carro dele, e quando eu tô saindo ele diz assim: ‘Rodrigo, Rodrigo’ ou, não sei como é que ele me chama, eu sei que ele está ali. Eu vou até ele, aí ele pe… com essa mala na mão, ele diz assim: ‘olha a sua mala, pega que você vai perder o avião, corre que você vai perder o avião”, relatou.
Solícito
A reportagem de O Globo também apontou que Rocha Loures foi questionado durante o depoimento sobre a ausência de R$ 35 mil quando devolveu a mala. O ex-deputado disse que a mala nunca foi aberta.
A investigação da Polícia Federal mostrou que Rocha Loures atuou junto ao Cade. Segundo O Globo, em seu depoimento à Justiça, o ex-deputado negou ter ajudado o empresário Joesley Batista, um dos donos da J&F.
“Ele [Joesley] me diz, atrapalhadamente, ele pega e fala assim: ‘Se você resolver esse assunto pra mim, tem lá 5% disso, 5% daquilo’. Eu não entendi que foi uma oferta de propina, eu não entendi que ele estava oferecendo a mim esses valores e eu não iria fazer nada por ele, como não fiz”, disse Rocha Loures.
O juiz Jaime Travassos fez questionamentos incisivos ao ex-assessor de Temer. O magistrado quis saber porque um deputado federal estava se prestando aquela situação suspeita. Rocha Loures explicou que estava ali a pedido do presidente da República.
“Então eu vou lhe responder. O presidente havia pedido para eu ouvir as demandas do grupo. O presidente não havia pedido para eu resolver nem fazer ilícitos com quem quer que seja. O presidente pediu para eu ouvir as demandas do grupo. Então, excelência, eu, até provem o contrário ou até mudar esse acordo com o presidente, eu sou uma pessoa solícita, mas não sou venal, não sou corrupto”, afirmou Rocha Loures.
