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Ex-chefe da FAB reafirma ao Supremo reunião golpista, ameaça de prisão a Bolsonaro e apoio da Marinha

Baptista Junior relembrou reuniões com Bolsonaro na qual foram discutidas medidas para reverter a derrota nas eleições. (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior prestou depoimento nessa quarta-feira (21) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e confirmou diversos pontos da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado.

Baptista Junior relembrou reuniões com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na qual foram discutidas medidas para reverter a derrota nas eleições, e relatou que o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes chegou a ameaçar Bolsonaro de prisão caso isso fosse para a frente.

O brigadeiro também afirmou que avisou a Bolsonaro que não havia provas de fraudes nas urnas eletrônicas e que o ex-presidente pressionou pelo adiamento da publicação de um relatório do Ministério da Defesa sobre o tema. O ex-chefe da Aeronáutica disse que afirmou ao então mandatário que não havia hipótese de ele continuar no cargo.

“Eu falei com o presidente Bolsonaro: aconteça o que acontecer, no dia 1º de janeiro o senhor não será presidente”, disse.

Outro ponto confirmado por Baptista Junior foi que o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teria colocado as suas tropas à disposição do presidente. Segundo o brigadeiro, os três comandantes foram chamados seguidas vezes ao Palácio da Alvorada após a derrota de Bolsonaro nas eleições. Ainda conforme ele, era discutida a possibilidade de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou da decretação de um estado de defesa ou de sítio.

A partir de certo momento, contudo, Baptista Junior disse que começou a ficar “muito preocupado” por considerar que o objetivo dessas medidas era, na verdade, impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A partir de um momento, eu comecei a achar que o objetivo de qualquer medida dessa, de exceção, era, sim, para não haver a assunção pelo presidente que foi eleito”, disse.

“E a partir desse momento, e eu digo que isso aconteceu do dia 11 ao dia 14 [de novembro], eu fiquei bastante preocupado”.

No dia 14 de dezembro, houve uma reunião no Ministério da Defesa com os três comandantes. Baptista Junior diz que Paulo Sérgio apresentou a eles um documento, dentro de uma pasta, para ser analisado. O brigadeiro perguntou a ele se a peça previa a “não assunção no 1º de janeiro do presidente eleito”. Como o ministro ficou em silêncio, ele interpretou que sim.

“E aí eu falei: ‘não admito sequer receber esse documento, não ficaria aqui’. Levantei, saí da sala e fui embora. Como eu falei para o senhor, na guerra o objetivo político é quem faz ganhar ou perder a guerra, não é o militar. E eu tinha um ponto de corte. Eu tinha muito respeito pelo presidente, por todos os meus colegas, mas eu tinha um ponto de corte”, afirmou.

Na segunda-feira, também em audiência ao STF, Freire Gomes negou ter dado “voz de prisão” a Bolsonaro. Nesta quarta, Baptista Junior foi questionado sobre o episódio e declarou que o general afirmou, “com muita tranquilidade, com muita calma”, que prenderia o então presidente se ele seguisse adiante com o plano golpista.

Baptista Junior alegou que Almir Garnier, então comandante da Marinha, não tinha a “mesma postura” que ele e Freire Gomes, além do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.

Segundo ele, em uma reunião com Bolsonaro, enquanto tentavam demover o presidente do seu plano, Garnier teria informado que suas tropas estavam à disposição. Depois, ao ser questionado pelo advogado de Garnier, Demóstenes Torres, reforçou o relato e citou o número de fuzileiros da Marinha que teria sido dito pelo ex-comandante:

“Nós não estávamos lá só para discutir base jurídica. Nós estávamos discutindo um ambiente e possibilidade. E isso foi o que o Garnier falou. Eu não fiquei sabendo à toa que a Marinha tem 14 mil fuzileiros”, afirmou.

O ex-comandante da Aeronáutica também narrou ter informado a Bolsonaro, em diversas oportunidades, que não foram encontradas falhas nas urnas eletrônicas.

“Comentei após o segundo turno, na reunião que nós tivemos no dia 1º de novembro. Depois comentei nas várias reuniões, cinco ou seis reuniões, que os comandantes e o ministro da Defesa tivemos com ele. E comentei com mais ênfase uma reunião no dia 14, quando ele me apresentou o relatório do IVL com um possível erro de programação”, pontuou.

 

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