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Ex-comandante da Marinha disse a Bolsonaro que “colocaria suas tropas à disposição” para ele permanecer na Presidência da República

Baptista Junior prestou depoimento na condição de testemunha. (Foto: Reprodução)

O ex-comandante da Aeronáutica brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior afirmou, em depoimento à Polícia Federal (PF), que, em uma reunião no Palácio da Alvorada após as eleições de 2022, Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, colocou as tropas que chefiava à disposição de Jair Bolsonaro (PL).

Baptista Junior prestou depoimento, na condição de testemunha, no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado arquitetada na gestão Bolsonaro.

O ex-chefe da Força Aérea Brasileira (FAB) disse que, em um encontro com Bolsonaro e outros comandantes das Forças Armadas, afirmou que não haveria qualquer possibilidade de o então presidente permanecer no poder depois do término do mandato, em 31 de dezembro de 2022.

Baptista Junior disse que afirmou a Bolsonaro que não aceitaria qualquer tentativa de ruptura institucional para manter o então presidente no poder, seja por meio de decreto de Garantia da Lei e da Ordem, de Estado de Defesa ou de Estado de Sítio.

No entanto, segundo o depoimento do ex-comandante da FAB à PF, “o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro”.

À PF, Baptista Junior disse que a posição de Garnier era “dissonante” da dele e da do então comandante do Exército, o general Freire Gomes.

A informação de que Garnier teria colocado as tropas à disposição de Jair Bolsonaro, no contexto de uma tentativa de golpe, já havia sido divulgada pela imprensa.

Nessa sexta-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou o sigilo de 27 depoimentos tomados após a deflagração da Operação “Tempus Veritatis”, da Polícia Federal, que apura um suposto plano golpista arquitetado na gestão Jair Bolsonaro.

O depoimento do brigadeiro Baptista Junior foi um dos que foram divulgados com a decisão de Moraes.

As falas dos depoentes eram mantidas em sigilo até essa sexta, mas alguns trechos já haviam sido divulgados pela imprensa.

Por exemplo, aqueles pontos em que o ex-comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, relatou reuniões em que Bolsonaro teria tratado da chamada “minuta do golpe”.

Sem fraude

Baptista Junior afirmou em seu depoimento à PF que Bolsonaro sabia que a Comissão de Transparência das Eleições (CTE) não havia identificado qualquer fraude na disputa eleitoral de 2022. Ainda assim, o ex-presidente manteve as críticas ao sistema eleitoral e levantou dúvidas sobre a votação.

“A respeito da fiscalização das eleições 2022 respondeu que sim; que o então presidente da República tinha ciência de que a Comissão de Fiscalização não identificou qualquer fraude nas eleições de 2022, tanto no primeiro, quanto no segundo turno”, afirmou o militar à PF.

Baptista Junior disse, ainda, que não participou, mas “ouviu que houve uma determinação para não divulgar o relatório de fiscalização do sistema eletrônico do primeiro turno de votação”. Ele informou não se recordar “quem teria falado sobre o pedido para atrasar a divulgação do relatório”.

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