O ex-comandante do Exército Júlio Cesar Arruda negou nessa quinta-feira (22) ter impedido a prisão imediata das pessoas acampadas em frente ao Quartel-General do Exército após os ataques golpistas do 8 de Janeiro. O local reunia a maior parte do grupo que invadiu e depredou as sedes dos Três Poderes. Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), Arruda disse que sua função era “acalmar” a situação e, por isso, defendeu realizar a medida de “maneira coordenada”.
“Ali estava um clima de nervosismo, o senhor sabe bem disso. A minha função era acalmar. Então eu falei, isso aí tem que ser feito de maneira coordenada. Vamos fazer isso aí de forma coordenada. E foi feita de maneira coordenada.”
Na ocasião, o Exército colocou tanques blindados para impedir a entrada da Polícia Militar. Na noite do dia 8 de janeiro, o ministro Alexandre de Moraes, Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão de todos que estavam no acampamento em frente ao QG. A ordem só fui cumprida na manhã do dia 9.
Para Arruda, se a operação não ocorresse na noite do mesmo dia, poderia ocorreu alguma morte:
“Minha função ali foi acalmar, porque até então, e graças a Deus, não houve nenhuma morte. Da forma como feita ali poderia haver alguma.”
As declarações foram feitas em audiência no na ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado. Arruda foi indicado como testemunha de defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do tenente-coronel Mauro Cid.
O ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal Fábio Augusto Vieira, que é réu em outra ação penal, afirmou que Arruda teria impedido a prisão na noite do dia 8 ao dizer que a tropa do Exército era maior que o contingente de policiais.
Nessa quinta, Moraes questionou Arruda sobre essa declaração, mas ele disse não se lembrar: “Não me lembro, não, senhor. Não me lembro.”
Em ao menos outras três oportunidades Arruda afirmou que não se lembrava do que foi perguntado. Em uma delas, por exemplo, disse não se recordar de uma conversa com o general Estevam Theophilo sobre a possibilidade de prisão do Cid.
Segundo o general da reserva, o então comandante militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra, o informou que a polícia iria prender os manifestantes, e ele respondeu que isso precisaria ser coordenado.
“O general Dutra me ligou e falou: ‘General, a polícia está vindo aqui atrás e eu tenho informação que eles vão prender todo mundo’. Aí eu falei: ‘Não, isso aí tem que ser coordenado. Encontra lá o interventor e vamos coordenar isso aí’.”
De acordo com Arruda, participaram das conversas sobre como deveria ocorrer a prisão os ministros Rui Costa (Casa Civil), Flávio Dino (Justiça, hoje no STF) e José Múcio (Defesa).
“As ações passaram a ser coordenadas por esses três ministros, comigo e com o general Dutra. Sentamos em uma sala e acertamos como deveria ser feito.”
Demissão por Lula
Na mesma audiência, Arruda afirmou que não sabe o motivo de sua exoneração no cargo, determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva após 21 dias de governo. Segundo ele, a pergunta sobre o motivo de sua saída deve ser feita a quem o nomeou e exonerou.
“Vou ser sincero com o senhor, não sei. Essa pergunta eu acho que não cabe ser feita a mim. Tem que fazer a quem me nomeou e quem me exonerou.”
Para o general, o presidente da República tem a atribuição de nomear e exonerar “quem ele quer”:
“Não precisa, não. É atribuição do presidente. Ele nomeia e desnomeia quem ele quer”.
Arruda foi o primeiro comandante do Exército no governo Lula, mas foi demitido em 21 janeiro de 2023. Um dos motivos para a exoneração foi a resistência em revogar a indicação de Cid para comandar o 1º Batalhão de Ações e Comandos, em Goiânia, uma unidade de elite do Exército. A nomeação foi revista pelo seu sucessor e atual comandante, Tomás Paiva.
O ex-comandante explicou que a nomeação de Cid estava decidida desde maio de 2022, por determinação do então comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes. Ele não falou, contudo, se houve um pedido para rever a medida.
Arruda também disse ter visitado Mauro Cid quando estava preso preventivamente, em 2023, e disse que é amigo do pai dele, Mauro Cesar Lourena Cid.
“Eu visitei o tenente-coronel Cid quando estava preso lá no Batalhão de Polícia do Exército, em Brasília. Estava morando ainda em Brasília, então visitei. E tenho mantido contato com pai dele, o general Cid, aqui no Rio de Janeiro. A gente conversa sobre diversos assuntos.”
O ex-comandante ainda relatou ter recebido o general da reserva Mario Fernandes no fim de 2022, mas negou que ele tenha defendido uma forma de impedir a posse de Lula. (Com informações do jornal O Globo)