O ex-ministro de Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou à CPI da Covid, nesta terça-feira (18), que não fez nenhuma declaração antichinesa e que não houve nenhuma hostilidade ao país por sua parte. O presidente da CPI, Omar Aziz, disse que Ernesto mente sobre declarações em relação à China. O ex-ministro disse que nunca teve “nenhum atrito” com os chineses e negou ter feito declarações contra o país asiático. Aziz lembrou Araújo de seus ataques aos chineses nas redes sociais. Durante o depoimento, Araújo também confirmou negociações do Itamaraty para comprar cloroquina no começo da pandemia.
Ernesto disse que não conversou em outubro com Bolsonaro sobre a aquisição da Coronavac, e não tem conhecimento de quem falou sobre isso com o presidente, que, na época, desdenhou dessa vacina. Questionado sobre o impacto de suas declarações antichinesas, Araújo respondeu:
“Eu não entendo nenhuma declaração que tenha feita como antichinesa. Houve determinados momentos em que por atos oficiais, por minha decisão, nos queixamos de comportamentos do embaixador da China. Não há impacto de algo que não existiu.”
Omar Aziz o alertou que ele deve dizer a verdade à CPI e lembrou declarações antichinesas.
“Tem várias declarações. Posso ler o seu artigo. Na minha análise, Vossa Excelência está faltando com a verdade. Peço que não faça isso. Escreveu no seu Twitter, escreveu artigo. Chegar aqui e desmerecer o que Vossa Excelência já praticou e que nunca se indispôs com a China, aí está faltando com a verdade”, disse Aziz.
Omar Aziz citou artigo de Ernesto Araújo publicado em abril de 2020, que, segundo o parlamentar, fazia referência ofensiva à China ao mencionar o coronavírus como um “vírus ideológico”.
“O senhor não acha que chamar [o vírus] de ‘comunavírus’ não é uma coisa que indispõe a relação amigável que nós sempre tivemos, comercial, com a China? Se o senhor não acha isso, eu não sei o que mais achar. Inclusive, é até de se estranhar um chanceler, um ministro das Relações Exteriores, escrever um artigo contra um país com o qual nós temos uma relação comercial superavitária, que ajuda muito no superavit primário do Brasil, coisa que nós não temos com os Estados Unidos”, afirmou o presidente da CPI.
Ernesto Araújo deixou o Ministério das Relações Exteriores em 29 de março, após receber fortes críticas, inclusive de senadores, sobre sua atuação à frente da pasta.
Ao ser questionado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), se sua atuação prejudicou a relação com a China, Ernesto disse não concordar com essa avaliação, e argumentou que o crescimento do comércio brasileiro com esse país fornece indícios de que havia uma “boa diplomacia”.
“E acho que isso se reflete em dois dados muito concretos: o nosso comércio com a China aumentou significativamente ao longo deste governo. Entre 2019 e 2020, os números de 2020, mesmo com a pandemia, mostraram um aumento de 9% das nossas exportações destinadas à China, que, se não me engano, já atinge o posto de 33% do mercado total das nossas exportações. E, pelos dados que eu consultei dos quatro primeiros meses de 2021, dos quais três transcorreram na minha gestão no Itamaraty, houve um aumento ainda mais significativo das vendas brasileiras para a China”, afirmou o ex-ministro.
Já a senadora Kátia Abreu (PP-TO) declarou que o ex-chanceler possui uma “memória seletiva”, porque, segundo ela, o ex-ministro deixou de fazer referência, durante o depoimento, às citações que ele mesmo fazia, em blogs e redes sociais, contra a China e o governo chinês. Para ela, o crescimento dos negócios brasileiros com a China e as mais de 85% das doses de imunizantes aplicadas no Brasil, resultantes do trabalho conjunto entre o laboratório chinês Sinovac e o Instituto Butantan, se deram a “despeito” da diplomacia conduzida por Ernesto Araújo. Para a senadora, hoje o Brasil depende daqueles que foram diretamente atacados pelo ex-ministro. As informações são do jornal Extra e da Agência Senado.