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Explodem os pedidos de refúgio de venezuelanos em Manaus

O vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, visitará a cidade nesta quarta-feira. (Foto: Reprodução)

Nesta quarta-feira, a agenda do vice-presidente norte-americano Mike Pence em sua passagem por Manaus (AM) prevê uma visita à Casa de Acolhida Santa Catarina de Sena, maior dos três abrigos que recebem cidadãos da Venezuela vindos de Boa Vista (RR) pelo programa de interiorização do governo federal.

No local, administrado pela Cáritas, uma instituição ligada à Igreja Católica, moram quase 90 imigrantes do país vizinho, todos eles com as suas famílias – o que inclui idosos, adultos, adolescentes e crianças. Trazidos de avião, eles dispõem de alojamentos recém-reformados, refeitório e assistência social.

Mas os 150 venezuelanos sob os cuidados da Cáritas são apenas uma fração do fluxo em direção à capital do Amazonas. A maioria desse contingente está espalhada por casas superlotadas, abrigos temporários para sem-teto, locais de trabalho informal e até pelas ruas do centro da cidade.

Sem oportunidades na saturada Boa Vista (332 mil habitantes), são cada vez mais numerosos os venezuelanos que desembarcam em Manaus (2,1 milhões), a pouco mais de mil quilômetros da fronteira entre os dois países, via BR-174.

Só nos quatro primeiros meses deste ano, houve mais solicitações de refúgio à PF (Polícia Federal) em Manaus do que durante todo o ano passado (3,5 mil pedidos, contra 2,8 mil). Na rede municipal de ensino, o total de crianças venezuelanas passou de 102 para as atuais 319, uma alta de 213%.

A prefeitura faz agora um levantamento do tamanho da comunidade venezuelana, em parceria com o Acnur, a agência de refugiados da ONU (Organização das Nações Unidas). “Há essa demanda, mas não temos noção do volume que chega de forma espontânea”, frisa Julieta Moraes, chefe do departamento de Proteção Social Especial amazonense.

Sem ter onde ficar, parte dos recém-chegados acaba dormindo na rodoviária e em praças do centro da cidade. “Como Manaus é maior, nota-se menos o problema do que em Boa Vista”, explica o venezuelano Francisco Lopez, 34 anos, há três meses em Manaus.

Ex-funcionário da estatal petroleira PDVSA, o engenheiro químico conta ter dormido durante cerca de 20 dias nas ruas, experiência até então inédita para ele: “É muito difícil. Você não sabe quem são os outros, tem de fazer alianças sãs para se proteger”.

Atualmente, Lopez divide uma casa de apenas um quarto com outros 11 compatriotas e realiza bicos como padeiro. Em breve, planeja se mudar para Vitória (ES), onde espera conseguir um emprego na indústria petroleira.

Condições

Há também venezuelanos atraídos por ofertas de emprego que oferecem um lugar para dormir, conforme têm revelado diversos veículos da imprensa. Em muitos casos, o alojamento e a alimentação são descontados do salário sem acordo prévio, caracterizando trabalho em condições degradantes.

Parte desse fluxo passa pelo escritório da Cáritas Arquidiocesana, no centro de Manaus. Ali, são atendidos por dia, em média, 35 venezuelanos recém-chegados. Os solicitantes de refúgio recebem orientações, assistência jurídica e têm acesso a serviços como aulas de português, mas não podem se cadastrar no programa de interiorização.

“O programa do governo federal deveria atender também os que chegam de forma voluntária a Manaus”, defende a assistente social Andreia Taniguchi, da Cáritas.

Além das casas de acolhida da Igreja Católica, Manaus conta com dois abrigos da prefeitura que atendem apenas indígenas da etnia warao, originários do nordeste da Venezuela, em um total de 200 pessoas.

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