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Explosão de ações judiciais contra os Correios é resultado de exploração política e má gestão

Os Correios registram prejuízo desde a segunda metade de 2022, ou 12 trimestres consecutivos até junho deste ano. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Uma enxurrada de ações trabalhistas é sintoma comum a empresas em situação pré-falimentar, por isso não chega a causar surpresa a explosão de processos contra os Correios, que há algum tempo respiram com a ajuda de aparelhos. A média de seis ações por hora abertas nos últimos 12 meses, conforme revelou reportagem do Estadão, dá a medida do temor dos empregados de não terem os direitos respeitados. A surpresa, neste caso, é a insistência do governo de tentar encobrir a insolvência, cujas causas estão diretamente ligadas à má gestão de uma estatal capturada por interesses políticos.

Há cerca de um mês ganhou destaque o apelo da direção da empresa ao governo federal por um socorro de R$ 20 bilhões – dinheirama que não resolveria a dramática situação da estatal, apenas ajudaria a cobrir despesas operacionais e de pessoal até 2026. O Tesouro Nacional tomou a frente das negociações, mas até agora não há notícia de que algum banco – nem mesmo os públicos Banco do Brasil e Caixa – tenha colocado recursos a disposição para o empréstimo, apesar da garantia do Tesouro (o que significa que, em caso de inadimplência, a conta seria paga com dinheiro do contribuinte).

Classificada juridicamente como uma estatal não dependente do Tesouro, ou seja, capaz de operar com suas próprias receitas, os Correios registram prejuízo desde a segunda metade de 2022, ou 12 trimestres consecutivos até junho deste ano. O resultado do terceiro trimestre ainda não foi divulgado, mas somente nos primeiros seis meses de 2025 o rombo chegou ao recorde de R$ 4,3 bilhões. Somada ao resultado negativo de R$ 2,6 bilhões de 2024, a cifra é o retrato da bancarrota, mas, a despeito do cenário de catástrofe financeira, os cargos da companhia continuam sendo alvo de disputa ferrenha entre políticos.

O interesse em torno da companhia atravessa o espectro partidário da esquerda à direita e é pano de fundo das mais diversas negociações. Mesmo deficitária, a empresa tem como capital político a presença em todo o território nacional e seu patrimônio inclui uma gigantesca relação de imóveis e bens. Sob gestão privada, é possível que uma empresa desse porte estivesse concorrendo com as gigantes de vendas online, setor que prevê movimentar este ano R$ 235 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm). Mas um dos primeiros atos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao assumir seu terceiro mandato, em 2023, foi retirar os Correios da lista de privatizações, sob o argumento, veiculado na época, de reforçar a “oferta de cidadania” – mais uma expressão vazia do léxico petista, aquele que sempre resulta em prejuízo para o País.

De acordo com levantamento do Estadão, com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), até outubro o total de ações trabalhistas contra os Correios somava mais de 75 mil. Considerando o total em torno de 83 mil funcionários, os litígios representariam mais de 90% do quadro, mas nem todos se referem a pessoal em atividade. Seja como for, parece claro que, no processo de decomposição da empresa, o que não falta é necrófago. (Opinião/Jornal O Estado de S. Paulo)

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