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Fabio Assunção fala sobre nova série, paternidade, drogas e recomeço

Ator sobre dependência química: 'É incurável, mas tratável. Hoje, estou forte e protegido'. (Foto: Reprodução/Instagram)

“Estou no melhor momento da minha vida”, diz Fabio Assunção, entre uma resposta e outra da entrevista por chamada de vídeo. O fato de o mundo ter parado no ano passado, por causa da pandemia de Covid-19, obrigou o ator a se dar um tempo. Antes disso, já havia começado uma transformação corporal radical, compartilhada nas redes sociais. “Emagreci 27 quilos em cinco meses”, diz, com orgulho.

Além do corpo, ele pôde se dedicar à espiritualidade. Encontrou-se no Ifá, religião originária da Nigéria. Com o corpo e o espírito fortalecidos, reconheceu o amor, que morava, literalmente, ao lado. “Eu e Ana Verena éramos vizinhos de condomínio há seis anos, mas nunca tínhamos nos esbarrado. A gente se viu pela primeira vez na academia do prédio.” Os dois se casaram em outubro do ano passado e estão grávidos de nove meses (até o fechamento desta edição, o terceiro filho de Fabio, uma menina ainda sem nome, ainda não havia nascido).

No mês que vem, vai ao ar a série “Onde está meu coração”, escrita por George Moura e Sergio Goldenberg e gravada em 2019. O primeiro episódio será exibido no dia 3 de maio no Tela Quente, da Globo, e, a partir do dia 4, no Globoplay. Na produção, ele dá vida ao médico David, pai de Amanda, médica viciada em crack, interpretada por Leticia Colin. O drama é familiar ao ator, cujo problema com drogas e álcool no passado foi escancarado.

1-Antes da pandemia, você começou a gravar “Fim”, série baseada no livro homônimo de Fernanda Torres. O fim, na verdade, foi um recomeço.

Dá para brincar com os trocadilhos: a série se chama “Fim” e eu comecei gravando o velório do meu personagem. Voltaria em 20 dias e veio a Covid-19. Já estava no processo de perda de peso com o Chico Salgado (personal trainer) e a Adriana Tannure (nutricionista), buscando a estética que serviria ao Ciro, que morre de câncer. Minha meta era ficar com 19 quilos a menos. Acabei incorporando esses hábitos e perdi 27 em cinco meses. Fiquei mais ativo. A testosterona aumenta e a ansiedade diminui. Atividade física deixa a gente alegre, sem ficar eufórico, sente-se triste, mas não deprimido, fica com raiva, mas não sai quebrando tudo.

2-Como tem encarado a crise sanitária? Está isolado? Faz tarefas domésticas, tipo lavar e passar?

Se for a algum lugar, posso colocar a minha família em risco. Estou isolado, ao lado da minha mulher e dos meus filhos, protegido, cuidando da casa. Não faço tarefas domésticas pois não sou bom nisso e não gosto. Assisto às notícias e isso gera um nó na cabeça. Ficou chocante para mim que a postura política das pessoas está acima da humanidade. Tento me manter bem, em termos de saúde, estudando, fazendo cursos e doações. Também continuo com os treinos e a dieta. Dá revolta termos tido uma orientação federal tão jocosa, que tratou o coronavírus com sátira e ironia, desprezando a dor do outro. Hoje, li que brasileiro não entra na França. Fechamos as portas para países que poderiam estar nos ajudando, pactos não foram feitos e relações se deterioraram. Estou realmente arrasado com a situação do Brasil.

3-Foi nesse período de um ano que você mergulhou na espiritualidade?

Sim. Com a parada imposta pela Covid, conquistei tempo, e estudei, me espiritualizei completamente. Encontrei um caminho diferente, o Ifá, uma religião de matriz africana, que me ajudou a compreender muitas coisas. Com o sacerdote de lá, comecei a trilhar essa estrada. Reconheço hoje na própria natureza tudo de que necessito. As próprias orixás são representadas por elementos da natureza. Por causa desse contexto, foi possível conhecer minha esposa. Estava pronto.

4-Como foi esse encontro?

É meio inacreditável. A gente morava no mesmo condomínio na Barra da Tijuca e nunca tinha se esbarrado. Eu vivia lá há seis anos e ela, há 12. Conheci a minha esposa na academia do prédio. Rolou uma conexão completa de imediato, só não começamos a namorar em plena academia porque prezo o cenário (risos).

5-E a paternidade aos 49 anos?

A Ella veio aos 40 anos. Hoje estou presente, inteiro e sem pressa. Estou no melhor momento da minha vida.

6-Na série “Onde está meu coração”, você vive o pai de uma dependente química. Qual é a importância de abordar esse assunto na TV?

As famílias precisam discutir esse tema. O que mais agrava o dependente químico é o silêncio e o estigma. Também devemos refletir sobre como a sociedade contribui, por meio de ganhos financeiros, na manutenção da dependência química. O usuário é colocado num palco, mas, nos bastidores, existe a sua construção.

7-Como os pais podem ajudar os filhos no vício?

Particularmente, acredito que em um ambiente aberto, em que se respeitam as individualidades, pode-se evoluir muito. Nada que cresça em relações autoritárias e preconceituosas pode resultar em algo positivo e transparente. Quem é criado com independência e amor aprende a cuidar de si mesmo e se amar.

8-Já falou sobre drogas com seus filhos?

Falei com o João quando ele tinha 14 anos. Na verdade, ele trouxe a questão e, então, conversarmos. A Ella ainda está com 9. Chegará o momento de discutirmos esse assunto.

9-Como você está hoje?

Vem acontecendo uma coisa interessante: estão me procurando para conversar. Falo, três vezes por semana, com três pessoas em recuperação. E, ao compartilhar minhas experiências, percebo que o que vivi está tendo utilidade. A dependência química é incurável, mas tratável. Dá para mudar de ideia, e ela volta. Hoje, me sinto forte e protegido, isso nem é mais um assunto na minha vida, está acomodado dentro de mim.

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