Gabriel tem 12 anos e precisa de um coração novo. Doadores para crianças na fila de espera são raros. Doações de coração, então, são raríssimas. O órgão é o que tem o menor tempo de isquemia – o menor período em que pode ficar sem irrigação sanguínea nenhuma: quatro horas, o prazo completo para trocar de peito. No primeiro dia do ano, o menino de Brasília (DF) teve uma oportunidade real de transplante. O coração novo, no entanto, não chegou.
O órgão surgiu em Pouso Alegre (MG), a menos de 1 mil quilômetros de Brasília. Mas a equipe que cuida de Gabriel nem embarcou: faltou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para buscar o coração em Minas.
A FAB confirmou que recebeu o pedido para o transporte do órgão e que “não pôde atender por questões operacionais”. O episódio passou a ser investigado: “As circunstâncias envolvidas no caso estão sendo apuradas”, diz nota da Aeronáutica.
Gabriel continua na espera por um coração. A perda da oportunidade por falta de transporte foi considerada grave pela equipe médica.
A FAB e o Ministério da Saúde não responderam se a falta de disponibilidade de uma aeronave para buscar o coração estava relacionada a cortes de despesas em razão do ajuste fiscal e, consequentemente, à falta de combustível. O ministério também não comentou se o coração disponível para doação se perdeu.
O Ministério da Saúde e a FAB assinaram um acordo de cooperação técnica no fim de 2013 para priorizar o transporte de órgãos. Segundo o ministério, em 2014 foram mais de cinco mil voos para transporte de órgãos, de graça, na aviação civil.
