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Filme brasileiro vence prêmio em Berlim

Cena de 'A Última Floresta', de Luiz Bolognesi. (Foto: Divulgação)

O cinema brasileiro obteve uma vitória neste domingo, na mostra de verão do 71º Festival de Berlim. O documentário “A última floresta”, de Luiz Bolognesi, ficou com o troféu do público na Mostra Panorama. O longa nacional disputava com outros 15 de diferentes partes do mundo. Segundo a Berlinale, 5.658 votos foram computados.

Escrito por Bolognesi em parceria com o xamã Davi Kopenawa, o filme aborda uma questão urgente: a luta dos yanomamis no Norte da Amazônia contra os perigos provocados por garimpeiros.

“O prêmio é extremamente importante para chamar atenção para esse genocídio indígena que está acontecendo no Brasil”, comentou Bolognesi. “No momento, os yanomamis estão sob ataque de garimpeiros. Já foram três aldeias atacadas com tiros e bombas, e o governo não toma as medidas legais para retirar os garimpeiros invasores e nem sequer proteger os indígenas.”

Premiado roteirista de “Bicho de sete cabeças” (2001), Bolognesi também reconheceu a importância cultural, não só política, do prêmio conquistado em Berlim.

“O prêmio do público no Festival de Berlim tem uma relevância imensa. Ganhar um prêmio desses num dos principais festivais do mundo é importante também no sentido do reconhecimento da qualidade do cinema brasileiro”, vibrou o realizador, que está em Berlim.

Por conta da pandemia, a 71ª edição da Berlinale teve formato híbrido e dividido em dois. A primeira mostra aconteceu em março, com a premiação principal e um programa virtual de cinco dias. Agora, em junho, o festival contou com exibições ao ar livre abertas ao público e a festa de premiação, neste domingo.

O Urso de Ouro, prêmio maior da Berlinale, ficou com o filme do diretor romeno Radu Jude “Bad luck banging or loony porn”, que denuncia a hipocrisia da sociedade contemporânea com uma história baseada no vazamento de uma “sextape”.

Na votação popular da mostra competitiva, cujo vencedor também foi anunciado neste domingo, o troféu ficou com o alemão “Mr. Bachmann and his class”, de Maria Speth, uma fábula de inclusão na qual uma professora carismática ajuda seus alunos, que vêm de diferentes países, a se sentirem em casa na Alemanha.

Luta e magia no Norte da Amazônia

Rodada ao longo de cinco semanas de 2019, na aldeia Watoriki, a duas horas de voo de Boa Vista, em Roraima, “A última floresta” não apenas expõe a luta daquele povo para proteger seu território do garimpo ilegal. Também transforma em cinema o universo encantado dos Yanomami.

“Para eles, o mundo é mágico, e a dimensão do sonho é da ordem do real. Os yanomamis acreditam que, quando eles dormem, o espírito vagueia”, contou Bolognesi. “Um dia, durante as filmagens, o nosso guia reclamou de cansaço porque tinha passado a noite inteira fugindo de uma onça que queria comê-lo.”

No documentário “Ex-pajé”, que recebeu uma menção honrosa na Berlinale em 2018, Bolognesi mostrou o drama de um líder indígena subjugado por religiosos evangélicos. Agora, sua intenção é exibir a potência de um povo que luta para proteger sua tradições.

Assim como a cosmologia dos Yanomami, o filme trata o lado “encantado” do povo como fundamento da realidade. Quando um pai de família desaparece, ele pode ter sido levado pelo “feitiço do celular” oferecido pelos garimpeiros. Mas também pode ter sido seduzido por um espírito da floresta.

Em outro trecho do longa, dois jovens de bermudas e calçando Havaianas, ornados com penas coloridas e pintura no corpo, representam os gêmeos Omama e Yoasi, que estão na origem do mundo, segundo os Yanomami. Eles vivem solitários até que Omama “pesca” do rio a primeira mulher, Thuëyoama. Enquanto o casal povoa a floresta, Yoasi se afasta e cria a morte.

“Eu quis levar para o filme o mundo mágico em que eles vivem. Ainda que não fizesse sentido para os brancos, funcionaria para o público indígena do país. Já seria ótimo”, diz Bolognesi, que trabalhou em parceria com as produtoras Gullane e Buriti Filmes.

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