Foi constrangedora a carta enviada ao governo brasileiro por um alto funcionário da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, na quarta-feira, cobrando um plano imediato para lidar com as falhas de segurança e infraestrutura durante a COP30, em Belém. Prover segurança e infraestrutura é o mínimo que se espera dos organizadores de discussões sobre o futuro do planeta.
Depois da crise de hospedagem que dominou o noticiário antes da COP, é lamentável constatar problemas básicos que deveriam ter sido previstos. Houve reclamações sobre goteiras e alagamentos de áreas da conferência. Ora, chuvas frequentes na capital paraense são tão previsíveis quanto o calor, e a montagem das estruturas deveria levar isso em conta. Geraram queixas também a falta de água em banheiros e falhas nos sistemas de refrigeração. Belém, como todos sabem, é uma cidade escaldante. Uma das imagens mais frequentes da conferência são estrangeiros e brasileiros se abanando com leques.
Termômetros nas alturas não são impedimento para abrigar um megaevento. Obviamente, não é o caso de erguer instalações suntuosas, mas é uma vergonha o Brasil ser incapaz de oferecer condições confortáveis aos visitantes. Já fez isso várias vezes como anfitrião de grandes eventos.
A insegurança também é inaceitável. Na terça-feira, cerca de 150 manifestantes invadiram facilmente as instalações da conferência, chegando à Zona Azul, onde ocorrem as negociações climáticas. O episódio foi visto pela ONU como “grave violação da estrutura de segurança”, levantando preocupações sobre o cumprimento das obrigações pelo anfitrião. Entre as vulnerabilidades, estão efetivos insuficientes, porta sem segurança e nenhuma garantia de que autoridades federais e estaduais responderiam às invasões. Durante o protesto, um segurança ficou ferido, e estruturas foram danificadas.
Protestos não devem ser tratados com truculência pela polícia, mas precisam seguir regras, ou tudo vira bagunça. É inacreditável que manifestantes consigam invadir áreas restritas da conferência. O desleixo é ainda mais preocupante, pois Belém é ponto nevrálgico numa região acossada por facções criminosas. O plano de segurança deveria ser impecável. O governo chegou a decretar operação de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) para obter apoio das Forças Armadas. Só esqueceu o básico.
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou na quinta-feira que todas as questões citadas na carta foram “completamente sanadas”. “Tivemos problemas técnicos, e acredito que estão sendo solucionados”, afirmou. Mas isso não apaga o vexame. Era previsível que Belém não tinha estrutura para sediar um evento dessa magnitude. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu em mantê-la como sede, enfatizando o simbolismo de fazer uma COP na Amazônia. Espera-se que na reta final não haja mais “problemas técnicos”, para que a ONU e os negociadores possam se preocupar com questões menos comezinhas e se dedicar ao que importa: conter o aquecimento global que ameaça a humanidade. (Coluna de opinião do portal O Globo)
