Na segunda-feira (17) foi divulgada a gravação em áudio das caixas-pretas do voo Rio-Paris, que caiu no mar em 2009 e matou 228 pessoas. A publicização da gravação ocorreu durante o processo contra a fabricante, AirBus, e a companhia aérea, Air France, em um tribunal de Paris, na França.
De acordo com relatos, familiares e amigos das vítimas ficaram emocionados no momento da transmissão da gravação dos áudios. “A escuta do áudio do voo foi um momento extremamente forte para todas as pessoas presentes”, declarou um porta-voz da Airbus.
“Nós ouvimos as vozes do além-túmulo. Foi um momento apavorante porque ouvimos os pilotos, que em vários trechos (dizem): ‘Nós tentamos de tudo’. Eles não entendiam o que estava prestes a acontecer”, disse Alain Jakubowicz, um dos advogados da associação Cooperação e Solidariedade AF447.
Corinne Soulas, que perdeu sua filha no acidente, disse que “temia este momento”. “Eu temia este momento e foi ainda mais forte do que eu poderia imaginar. Os pilotos estavam perdidos, não sabiam o que os esperava, estavam na incompreensão total”.
Foram autorizados a entrar na sala de audiência somente os familiares, juízes, advogados, assistentes judiciais e as equipes dos acusados. Todos os presentes foram obrigados a desligar seus telefones. A medida adotada foi para evitar o vazamento da gravação.
Ophélie Toulliou, que perdeu seu irmão, disse ter ouvido três pilotos “que enfrentaram uma situação que não compreendiam […], pessoas que demonstraram ter um sangue frio extraordinário e que ouvimos lutar até o final”.
“A escuta do áudio do voo foi um momento extremamente forte para todas as pessoas presentes”, declarou um porta-voz da Airbus. “Nós nos unimos ao sofrimento das pessoas próximas dos pilotos e das vítimas, revivido pela escuta desta gravação”.
Naquela noite, a alta altitude, os pilotos do A330 foram surpreendidos pelo congelamento das sondas Pitot, que servem para medir a velocidade do avião, provocando o desligamento repentino do piloto automático. Eles não conseguiram estabilizar a aeronave.
Na manhã desta segunda-feira, o tribunal assistiu a dois vídeos da Airbus, um deles descrevendo as manobras que os pilotos deveriam ter realizado para controlar a situação. Os vídeos foram considerados pelas partes civis como dignos de um “mundo ideal” e não da “realidade”.
À tarde, a defesa da fabricante, que refuta qualquer sanção penal, questionou especialistas do primeiro colegiado encarregado da instrução sobre as regras de pilotagem, a atitude da tripulação frente à condição meteorológica e o fato de o copiloto, “o menos experiente”, estar no comando.
“Para os senhores, a tripulação identificou a pane?”, questionou Simon Ndiaye.
Os pilotos tinham sido treinados em um procedimento para o caso em que as velocidades não fossem “coerentes entre si”; mas, desta vez, não havia dado sobre “velocidade em absoluto”, explicou o especialista.
“Houve uma espécie de atordoamento, pois os elementos que eles tinham não correspondiam à imagem mental” do que haviam aprendido, descreveu.
O segundo conselho da Airbus questionou se a resistência ao efeito surpresa faz parte dos critérios de recrutamento dos pilotos.
“Entre os militares, sim, mas entre os pilotos civis, não”, respondeu o especialista. Para estes últimos, “o critério fundamental é o respeito aos procedimentos”. As informações são do portal de notícias Terra e da agência de notícias AFP.
