Eles vendem a imagem de galãs, másculos, desejados pelas mulheres, mas agora assumem outro tipo de papel. Cauã Reymond deixou de lado sua figura viril e subiu no salto, colocou peruca loira e usou maquiagem para dar vida à transexual Clara, no clipe “Your Armies”, de Barbara Ohana. Já Caio Blat e Ricardo Pereira vão protagonizar a primeira cena de sexo entre dois homens na dramaturgia brasileira. São desafios que tocam em temas delicados, ampliam os horizontes artísticos e provocam parte dos espectadores.
Travestido, Reymond fez com que o clipe de Barbara ultrapassasse um milhão de visualizações no YouTube. Por sinal, não foi a primeira vez que o ator se travestiu: ano passado, o bonitão encarnou Courtney Love, viúva de Kurt Cobain (líder do Nirvana), em protesto contra a homofobia.
Depilado, usando rendas e de cabelos loiros (e interpretando um travesti que reage a uma agressão, situação comum no dia a dia da comunidade trans), o galã incomodou. Mas não apenas à parcela mais conservadora do público, já que nas redes sociais, muitas pessoas reclamaram que a produção deveria ter escolhido um ator trans. “Reclamaram de mim como reclamaram do [astro] Jared Leto no filme ‘Clube de Compras Dallas’. Tem gente que reclama quando um ator hétero faz um gay, ou trans. Mas esse é o meu ofício. Trabalho com ficção, é um desafio artístico, não é um reality show. O que chama para o clipe é a mensagem de respeito às diferenças, da tolerância”, acredita Reymond.
Sexo.
Voltando à TV, na novela “Liberdade, Liberdade”, o personagem de Blat, André, será condenado à forca depois de ser flagrado na intimidade com o coronel Tolentino, papel de Pereira. “Estou muito feliz de estar representando essa história. Contribui em um sentimento geral da novela de tratar de diversas formas de preconceito, de discriminação”, afirma Blat, contando com a maturidade do público e apostando no texto. “Eu acho que esta é uma novela madura, as pessoas percebem que são temas contemporâneos que estão sendo tratados com um pano de fundo histórico.”
Para o ator português, a história do casal de época não se resume a um beijo. “O que eles sentem um pelo outro pode ser visto ao longo da trama, um sentimento que vem sendo explorado dentro do que se podia viver perante a sociedade naquela época. O amor que existe ali é lindo e traz muito do que a novela defende: a luta contra o preconceito, contra a intolerância e pela igualdade entre todas as pessoas”, reforça Pereira.
Neste caso, a intenção do diretor Vinícius Coimbra não é apenas entreter. “A cena [da novela], creio eu, deve ir além do desejo represado. Ela deve refletir o drama de cada pessoa que sofre algum tipo de repressão ou condenação social, seja por sexo, cor, religião seja por qualquer outra forma de segregação”, esclarece.
Beijo.
Mateus Solano e Thiago Fragoso foram os precursores do primeiro beijo gay no horário nobre da TV Globo, em “Amor à Vida” (2013), com os personagens Félix e Niko, respectivamente. Apesar de terem revolucionado a dramaturgia brasileira, Solano não acredita que foi suficiente para quebrar preconceitos. “Os homossexuais continuam sendo maltratados por uma grande maioria retrógrada. O que eu acho muito legal de André e Tolentino [de “Liberdade, Liberdade”], e eu falei isso para o Ricardo, é que ele tem a oportunidade de fazer a primeira ‘bicha sem pinta’ da TV. Isso é muito importante, porque a gente coloca o gay sempre no lugar da comédia, no lugar afetado. É um lugar mais ‘Brokeback Mountain’, dois machos ‘se pegando’. Até queria ter tido essa oportunidade com o Félix, mas ‘salgando a Santa Ceia’ [bordão do personagem], não dava [risos]. Eles estão com tudo e o público vai assinando embaixo”, vibra o ator. (AD)