Apesar da derrota acachapante de 10 a 0 nesse domingo (15), um dos destaques da partida entre Bayern de Munique e Auckland City foi o goleiro Conor Tracey, que evitou um placar ainda mais elástico. O neozelandês de 28 anos, assim como os demais companheiros, leva uma vida de “jornada dupla” e concilia os treinos e jogos com outra profissão.
O goleiro do Auckland trabalha em depósito de farmácia veterinária e concilia seu emprego com a rotina de jogos. No entanto, para disputar o Mundial de Clubes da Fifa, Conor Tracey precisou ficar um tempo afastado de seu trabalho.
O Auckland City é a única equipe do Mundial de 2025 que é gerida de forma amadora, com direito a professores no elenco. O clube da Austrália, que disputa pela 12ª vez a competição, também já foi alvo de polêmicas na região por jogos de azar.
O Auckland City Football Club está sediado na cidade de mesmo nome, a maior da Nova Zelândia, e é hoje o principal time não só do país como do continente. Para se ter uma ideia, os Navy Blues, como são chamados, faturaram as últimas quatro Liga dos Campeões da Oceania – e só não foi mais porque o torneio foi cancelado em 2020 e 2021, devido à pandemia de Covid-19.
Se puxar pela última década, o histórico é ainda mais dominante: com títulos em sequência de 2011 a 2017 – resultando em 13 conquistas no total – e participações no Mundial de Clubes. Engana-se quem pensa que o time sempre foi “saco de pancadas”. Mesmo com gestão amadora, chegou às semifinais em 2014 e deu trabalho ao San Lorenzo naquela chave, perdendo somente na prorrogação. Por pouco não enfrentou o Real Madrid.
A principal diferença está na dedicação do elenco. Diferentemente do futebol brasileiro, por exemplo, em que a profissão dos atletas é ser jogador de um clube específico, o plantel do Auckland City é composto por pessoas com outros cargos fora do esporte. O time tem, por exemplo, professores, vendedores e corretores imobiliários.
Assim, eles não são pagos pelos serviços contribuídos aos Navy Blues, e fazem parte do elenco, justamente, pela paixão ao esporte. O resto dos gastos compõem-se de viagens para compromissos da equipe, manutenções administrativas, gastos com staff e até com ações do esporte. Em Auckland, alguns jogadores dão aulas de futebol em comunidades.
Não receber salários não significa que não há nenhuma ajuda financeira do Auckland City para o elenco. De acordo com a rádio francesa RFi, atletas amadores recebem um incentivo de 150 dólares neozelandeses semanais (cerca de R$ 504 em conversão direta) para gastos básicos, como o de academias.
Diferentemente de uma gestão profissional, porém, a diretoria atua de forma voluntária e o clube não tem orçamento fixo, o que influencia no planejamento de metas e balanço financeiro. “Isso muda completamente o jeito de trabalhar no dia a dia e influencia nos resultados”, contou à ESPN Claudio Fiorito, CEO da P&P, agência que cuida da carreira de atletas como Vitor Reis, ex-Palmeiras e hoje no Manchester City, e Romelu Lukaku, do Napoli.
O Auckland City é, hoje, o principal time de futebol na Oceania e atual tetracampeão da Liga dos Campeões OFC. Os Navy Blues, como são conhecidos, estrearam neste domingo, pelo Grupo C, contra o Bayern de Munique, e depois enfrentarão outros dois pesos pesados: Benfica, de Portugal, e Boca Juniors, da Argentina.