O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), anunciou nessa quinta-feira (30) a criação de um “consórcio da paz” junto a governadores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, dois dias após a operação policial mais letal da história do estado. O encontro, realizado no Palácio Guanabara, serviu de plataforma para críticas ao governo Lula (PT) na área de segurança, em meio à tentativa do Planalto de acelerar a tramitação da PEC da Segurança Pública no Congresso.
Castro recebeu no Palácio Guanabara os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas; Ronaldo Caiado (União), de Goiás; Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina; Eduardo Riedel (PP), do Mato Grosso do Sul; e a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP). Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, participou por videoconferência, e Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, alegou não ter conseguido embarcar a tempo.
Segundo Castro, o “consórcio da paz” busca integrar ações na área de segurança, compartilhando informações, material e tropas. A sede será no Rio. O governador afirmou que a iniciativa contrasta com medidas do governo federal, como o decreto de 2024 que regula o “uso da força” pelas polícias.
“A questão principal é não tirar a autonomia dos Estados. Não dá para tratar o Rio Grande do Sul igual ao Rio de Janeiro ou ao Acre. Nosso receio é algo como o decreto do fim do ano passado, que previa cortar recursos de quem não seguisse diretrizes de uso da força. Isso, sim, é inconstitucional e ilógico”, disse Castro.
O governador defendeu ainda que o Rio seja um “laboratório para a retomada de territórios e o controle de armas”, destacando a necessidade de “coragem e efetividade” na segurança pública.
Outros governadores também aproveitaram o encontro para criticar o governo federal. Caiado afirmou que lideranças criminosas de outros Estados se instalaram no Rio “para mandar no crime em outros locais”, e responsabilizou a limitação imposta pelo STF às operações policiais durante a pandemia, a chamada “ADPF das Favelas”. Ele disse ainda que “a PEC da Segurança é um assunto fake”, pois “tudo o que está nela já consta em lei ordinária” e o objetivo seria “tirar dos governadores as diretrizes gerais da segurança pública”.
Jorginho Mello afirmou ter ido ao Rio “oferecer um abraço” a Castro e cobrou do governo federal “reforço no controle de fronteiras e recursos para equipar as forças de segurança”. Sobre o consórcio, disse que os Estados ainda vão “fazer um regulamento” para formalizar a cooperação. “Vamos integrar os Estados com contingente, inteligência e apoio financeiro. Também poderemos fazer compras conjuntas para reduzir custos”, afirmou.
Eduardo Riedel, do Mato Grosso do Sul, considerou “improvável que o governador Cláudio precise de tropa” de outros Estados, mas defendeu que o consórcio permitirá um “enfrentamento mais inteligente” ao crime organizado.
A megaoperação no Rio, com 121 mortos, provocou atrito entre os governos estadual e federal. Castro acusou o Planalto de negar o envio de blindados, mas depois disse ter sido “mal interpretado”. Já o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que a corporação foi contatada pela PM, mas considerou que “não era uma operação razoável” para se envolver. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que o contato “em uma operação deste nível” deveria ocorrer “entre autoridades de hierarquia mais elevada”.
(Com O Globo)

