Com as eleições de 2026 chegando e sem uma grande obra para explorar eleitoralmente no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo federal decidiu recalcular a estratégia política da iniciativa.
Se antes a ambição era torná-la uma vitrine da atual gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, as dificuldades em encontrar uma marca, além de cortes no orçamento, fizeram com que o investimento fosse direcionado para intervenções locais que possam render dividendos eleitorais ao petista.
Em vez de ferrovias, hidrelétricas e refinarias, emblemas de edições anteriores do PAC, a aposta agora será em inaugurações como as de postos de saúde e creches ou a entrega de ambulâncias.
A fim de evitar uma “agenda de vereador” para Lula, com a presença em eventos de pequeno porte, o plano do Palácio do Planalto é promover grandes atos para entregar pacotes de obras pelo País. Nesse modelo, a ideia é que quando houver a inauguração de uma escola, por exemplo, o presidente participe presencialmente em uma cidade, mas anuncie a entrega simultânea de outras 50 ou cem em outras localidades, com transmissão online das cerimônias em cada uma delas.
O discurso adotado no governo é de que Lula precisa estar presente nas agendas que o aproximem da população na ponta, deixando claro que aquelas obras são fruto de sua gestão. Em geral, esse tipo de inauguração de menor peso ocorre apenas com a presença de prefeitos, vereadores e deputados, especialmente quando a intervenção recebe recurso via emenda parlamentar.
Ainda que a construção da creche ou do posto de saúde tenha sido fruto de investimentos do governo federal, o ganho político, na avaliação dos aliados de Lula, não costuma entrar na conta do presidente. Um dos objetivos da nova estratégia em relação ao PAC é tentar intervir nessa lógica. O primeiro ensaio do modelo ocorreu em março, quando o presidente fez a entrega de 789 novas ambulâncias para a frota do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Sorocaba, no interior de São Paulo.
Segundo o balanço de abril, 2.703 municípios têm obras em execução, licitação ou concluídas no chamado PAC Seleções — modalidade em que governadores e prefeitos indicam quais projetos locais devem ter prioridade para receber recursos do programa. Para 2025, há previsão de investimento de R$ 49,2 bilhões.
A Casa Civil nega que o PAC esteja “sem marca” e afirma que o objetivo dessa edição do programa “é resgatar e ampliar a infraestrutura do país em parceria com prefeituras, estados, movimentos populares e setor privado”. A pasta argumenta ainda que, dessa maneira, será possível “gerar emprego, garantindo políticas públicas e o desenvolvimento do país respeitando a transformação ecológica”.
O ministério cita como exemplo de obras de grande porte na atual versão do programa a construção de uma ponte sobre o Rio Araguaia, que ligará Tocantins ao Pará, e uma interligação entre duas rodovias que facilitará o acesso até o Porto de Capuaba, em Vila Velha (ES).
PAC
Lançado em janeiro de 2007, no segundo mandato de Lula, a primeira versão do PAC marcou a retomada dos projetos grandiosos de infraestrutura, remontando ao imaginário do governo Juscelino Kubitschek, nos anos 1950, e do período do “milagre econômico”, nos governos militares, entre as décadas de 1960 e 1970. Na lista de grandes empreendimentos construídos com verbas do PAC estão a Ferrovia Norte-Sul, a hidrelétrica de Belo Monte e a refinaria Abreu e Lima.
A exemplo da primeira versão do programa, quando a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, esteve à frente da iniciativa, Lula escalou Rui Costa, o atual chefe da pasta, para coordenar o programa. Uma das ideias aventadas no Planalto era que Rui pudesse utilizar as grandes obras para, a exemplo de Dilma, a “mãe do PAC”, se cacifar como um sucessor do presidente. Com as dificuldades de fazer o programa deslanchar, porém, essa possibilidade hoje é vista como improvável.
Em busca de melhorar a avaliação da gestão, Lula intensificou desde o ano passado as viagens pelo país para participar de inaugurações. A menos de um ano e meio das próximas eleições, o presidente tenta acelerar iniciativas que possam ser incluídas na sua propaganda eleitoral de 2026. Na última sexta-feira, por exemplo, o petista relançou em evento no Palácio do Planalto o programa que prevê reduzir as filas de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
As informações são do jornal O Globo.