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Gravidez não planejada no Brasil está acima da média mundial, aponta pesquisa

62% das cerca de mil mulheres das classes A, B e C que responderam ao levantamento já tiveram pelo menos uma gravidez não planejada. (Foto: Reprodução)

Uma gestação não planejada nem sempre significa um filho não desejado, mas muitas vezes significa exatamente isso: descobrir-se grávida em um momento que a mulher considera completamente inadequado.

Poder decidir quando e com quem queremos ter filhos, o chamado planejamento familiar, é um direito garantido por lei e que muitas vezes está inacessível a muitas mulheres, por diversos motivos. Falta de acesso a um ginecologista, vergonha de procurar por um especialista (o que às vezes também é desestimulado pelas famílias, no caso das mães adolescentes) ou o desconhecimento do fato de que antes de se iniciar a vida sexual meninos e meninas precisam de orientação não apenas sobre métodos anticoncepcionais, mas também sobre a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, são alguns dos motivos que fazem com que o índice de gravidez indesejada no país ainda seja maior que a média internacional.

Uma pesquisa divulgada no final de dezembro pela Bayer, em parceria com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e conduzida pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), batizada de “Panorama atualizado da gravidez não planejada no Brasil”, revelou que 62% das cerca de mil mulheres das classes A, B e C que responderam ao levantamento já tiveram pelo menos uma gravidez não planejada. Um estudo anterior, realizado em 2011 e 2021, apresentou um índice de 55%, o que também é bem acima da média mundial, que é de 40%. Os dados apontaram, ainda, que 48% das mulheres que tiveram alguma gravidez não planejada engravidaram pela primeira vez entre os 19 a 25 anos de idade. “A gente sabe que essa menina mais jovem, mais vulnerável e com menor condição socioeconômica, no momento em que ela gestar, tem uma maior probabilidade de sair da escola, de ter empregos inferiores e isso tudo leva a uma bola de neve e isso leva a ela continuar naquela condição socioeconômica inferior”, afirma a médica Maria Celeste Osório Wender, ginecologista, professora titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Diretora de Defesa e Valorização Profissional da Febrasgo.

“Essa é realmente uma realidade inquestionável e infelizmente a gente tem que lidar com esses dados de maneira realista para tentar reduzir esse número de gestações não planejadas, porque a gente sabe que a gestação não planejada está vinculada a uma série de desfechos negativos. Primeiro, a gente tem que pensar quem são as mulheres que mais comumente vivem gestações não planejadas. E aí começa o nosso problema: são meninas e mulheres mais jovens e que também em geral são de uma classe socioeconômica mais baixa, com menor índice de informação e que por isso mesmo acabam se descuidando. E isso é um fato bastante crítico porque a gente sabe que essa menina mais jovem, mais vulnerável e com menor condição socioeconômica, no momento em que ela gestar, ela tem uma maior probabilidade de sair da escola, de ter empregos inferiores e isso tudo leva a uma bola de neve e isso leva a ela continuar naquela condição socioeconômica inferior. E muitas vezes a gente acaba observando que essa menina que engravidou precocemente e de maneira não planejada também acaba gerando filhas que vão viver essa mesma realidade. Então é um processo crônico, a gente tem que efetivamente tentar enfrentar. E uma outra particularidade que eu também acho importante ver é que muitas vezes essa gestação não planejada também pode evoluir pra um abortamento inseguro – essa menina que não estava planejando engravidar muitas vezes se desespera e vai tentar interromper a gestação, o que acaba culminando em um risco de vida pra essa mulher”, afirma a médica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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