A candidatura de Wilson Witzel ao governo do Rio de Janeiro teria contado com a ajuda financeira de um grupo empresarial acusado de posteriormente aparelhar o Estado e desviar cerca de R$ 50 milhões em propinas, de acordo com novo depoimento do empresário Edson Torres, apontado como operador financeiro do grupo de Pastor Everaldo. O empresário compareceu de forma voluntária ao Ministério Público Federal (MPF), após a deflagração da Operação Tris in Idem, que culminou no afastamento do governador, para explicar como funcionava o esquema de corrupção que teria usado a máquina pública em proveito próprio.
Nesta segunda-feira (14), a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou, pela segunda vez, Witzel ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O governador afastado foi apontado como líder de uma organização criminosa que teria montado um esquema para desviar dinheiro público. O depoimento faz parte dessa nova denúncia.
De acordo com o depoimento do empresário Edson Torres, Witzel teria recebido R$ 980 mil quando ainda era juiz federal e mais R$ 1,8 milhão do grupo, até o fim do segundo turno, no intuito de garantir a atuação ilícita da organização criminosa caso ele vencesse. Após as eleições, o grupo teria estruturado um esquema de corrupção na Saúde, na Cedae e no Detran, e criado uma “caixinha da propina” que seria irrigada com um percentual entre 3% e 7% dos contratos.
Witzel já havia sido denunciado, no último dia 28, por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Na nova denúncia, a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo aponta o governador afastado Wilson Witzel como “chefe de uma organização criminosa” que teria praticado os crimes de corrupção ativa e passiva, fraude a licitações e peculato em detrimento do estado do Rio de Janeiro. Também foram denunciados Helena Witzel e outras dez pessoas.
A denúncia traz imagens de anotações que teriam sido feitas de próprio punho por Wilson Witzel que indicam que ele teria conhecimento dos honorários recebidos pelo escritório advocatício de Helena Witzel. O caderno de anotações foi apreendido pela Polícia Federal dentro de uma bolsa de Helena, no Palácio Laranjeiras.
O documento mostraria que “Wilson Witzel acompanhava diretamente os pagamentos das referidas empresas para o escritório de Helena Witzel”, segundo trecho da denúncia. Apesar de o escritório pertencer a apenas a Helena, o casal Witzel mudou o regime de casamento para comunhão universal de bens em setembro do ano passado, “o que, pelas regras do Código Civil, importa na comunicação de todos os bens presentes e futuros do casal, tornando seu patrimônio uno”.
Wilson Witzel foi afastado do governo do Estado do Rio de Janeiro no fim de agosto, quando foi denunciado pela PGR por corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. A PGR chegou a solicitar a prisão preventiva ao STJ. No entanto, o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves, autorizou, no dia 28 de agosto, apenas o afastamento por 180 dias e determinou medidas cautelares, para evitar que ele, direta ou indiretamente, use seu poder para atrapalhar as investigações. No dia 2 de setembro, a Corte Especial do STJ decidiu por manter o afastamento. Agora, Witzel ainda tem pela frente o processo de impeachment na Alerj.
Chefe da organização
Também foram denunciados o pastor Everaldo Pereira, presidente nacional do PSC; Edmar Santos e Lucas Tristão, ex-secretários da Saúde e Desenvolvimento Econômico, respectivamente; o ex-prefeito de Volta Redonda, Gothardo Netto; o empresário Edson Torres, que é apontado como operador financeiro do esquema de corrupção na Saúde; o doleiro Victor Hugo Barroso, também apontado como o operador financeiro do esquema; além de Nilo Francisco da Silva Filho, Cláudio Marcelo Santos Silva, José Carlos de Melo e Carlos Frederico Loretti da Silveira.
A denúncia aponta o governador afastado Wilson Witzel como chefe de uma organização criminosa lastreada em três principais pilares. O primeiro grupo encabeçado por Mario Peixoto; o segundo, pelo trio Pastor Everaldo, Edson Torrres e Victor Hugo Barroso; e o terceiro por José Carlos de Melo.