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Guerra de aplicativos: plataformas de delivery de comida travam disputa bilionária pelo cliente no Brasil

A guerra não é só pelo cliente: restaurantes e entregadores estão no centro das batalhas. (Foto: Reprodução)

Nunca a disputa pelo prato (ou pela quentinha) do brasileiro esteve tão acirrada. Embora o mercado de delivery seja dominado há anos pelo brasileiro iFood, o segmento entra em nova fase competitiva com a volta da 99Food, a chegada da Keeta e o avanço da Rappi.

A guerra não é só pelo cliente: restaurantes e entregadores estão no centro das batalhas – incluindo as judiciais –, que envolvem estratégias como taxa zero, cupons de desconto, novos modelos de pagamento e polêmicos contratos de exclusividade.

As empresas do ramo planejam investir R$ 14 bilhões no país em cinco anos – sendo quase R$ 10 bilhões até o fim do ano que vem – só em ações para fidelizar parceiros e chegar primeiro na casa do consumidor, que pode se beneficiar da concorrência acirrada: preços tendem a cair.

A briga se acirra no momento em que o delivery se consolida no cotidiano e pode responder por até 30% do faturamento de bares e restaurantes, diz a associação do setor, a Abrasel. Para as plataformas entrantes, vale a pena desafiar a hegemonia do iFood, atualmente controlado por um grupo holandês, por um lugar ao sol neste mercado, cujo volume de pedidos de comida deve dobrar em cinco anos.

Segundo especialistas, a maior concorrência é reflexo de uma decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão que regula a concorrência, que limitou, em 2023, os acordos de exclusividade com restaurantes estabelecidos pelo iFood, que o ajudaram a atingir cerca de 80% do mercado, segundo a Abrasel. Antes dessas regras, gigantes como Uber Eats, Glovo e o próprio 99 desistiram do país. Agora, até pequenas iniciativas regionais florescem.

“O acordo do Cade prevê que contratos de exclusividade do iFood não superem 25% de seu faturamento bruto nacional. Proíbe exclusividade com empresas (redes) com mais de 30 unidades. Nas cidades com mais de 500 mil habitantes, a quantidade de restaurantes exclusivos não pode exceder 8% do total de estabelecimentos ativos na plataforma. Esse acordo vale até 2027. Com isso, o mercado voltou a crescer e a investir, com taxas menores para restaurantes, subsídios aos consumidores e ganhos para os entregadores. É um momento histórico para o setor”, diz Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.

Mais disputa no Cade

Nas últimas semanas, a 99Food, que tem por trás a chinesa Didi Chuxing, e a Keeta, subsidiária da gigante de delivery Meituan, também da China, brigam na Justiça e no Cade em torno dos contratos de exclusividade. A Keeta acusa a rival de celebrar acordos proibindo estabelecimentos de contratá-la, gastando até R$ 900 milhões com pagamentos a restaurantes e redes.

Há outras brigas. No início deste mês, o iFood foi ao Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) denunciar a campanha “Taxa zero por dois anos”, alegando que era enganosa. Nos bastidores, segundo fontes, o iFood diz que a 99Food e a Keeta vêm se “inspirando” no layout de seu app para confundir o consumidor.

As duas últimas também se estranharam, com a 99 dizendo que a Keeta chegou ao Brasil imitando seu logotipo. Há ainda uma disputa por talentos no setor, com empresas acusando outras de tentar cooptar seus profissionais em posições estratégicas.

(Com O Globo)

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