A deterioração do relacionamento entre partidos do Centrão no Congresso Nacional e o Palácio do Planalto tem sido interpretada, nos bastidores políticos, como um “aquecimento” do cenário eleitoral para 2026. Apesar de ocupar quatro ministérios na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a federação União Brasil-PP vem se mostrando cada vez mais alinhada a um discurso de oposição, dando sinais claros de que pretende se distanciar do governo à medida que o calendário eleitoral se aproxima.
Na semana passada, a federação protagonizou um gesto simbólico e contundente: convocou uma entrevista coletiva para criticar abertamente as alternativas propostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para compensar a perda de arrecadação provocada pela desistência do governo em elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A ofensiva foi lida por aliados de Lula como um ensaio de discurso de campanha da oposição, baseado em duas frentes: o ataque à condução da política fiscal e a rejeição ao aumento de tributos.
“Taxar, taxar e taxar não será nunca saída”, afirmou Antonio de Rueda, presidente da federação, durante a coletiva, em uma frase que rapidamente ganhou repercussão entre parlamentares e analistas políticos.
Nos corredores do Congresso, governistas argumentam que o Centrão poderia estar mais disposto a colaborar com medidas fiscais impopulares caso estivesse comprometido com a reeleição de Lula. Em 2022, por exemplo, legendas do bloco apoiaram um pacote de aumento de gastos proposto pelo então presidente Jair Bolsonaro, às vésperas da eleição, que incluía o aumento do Auxílio Brasil, subsídios para caminhoneiros e taxistas, além de medidas para reduzir o preço dos combustíveis.
Outro ponto que gerou desconforto no Planalto foi a presença do líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), na coletiva da União-PP. O gesto foi interpretado como mais uma demonstração de alinhamento entre forças que, embora oficialmente componham a base ou estejam próximas dela, já articulam uma frente de oposição para o pleito presidencial.
Além disso, o Republicanos — legenda do presidente da Câmara, Hugo Motta (PB), e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — tem adotado uma postura abertamente crítica em relação ao pacote econômico apresentado por Haddad. Mesmo partidos considerados mais alinhados ao Planalto, como o MDB e o PSD, vêm manifestando resistência às medidas, ainda que em tom mais moderado. (As informações são do Estado de S. Paulo)