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Há 125 anos, nome de menina judia batizou marca de carros preferida do Terceiro Reich

Mercedes Jellinek, aos 11 anos, cujo nome rebatizou os carros de corrida da DMG. (Foto: Mercedes-Benz AG)

Em abril de 1900, portanto há 125 anos, Emil Jellinek rebatizou de Mercédès, nome de sua primeira filha, os carros da Daimler-Motoren-Gesellschaft (DMG), da qual era representante na Riviera Francesa. Nascido na Alemanha, o também cônsul do Império Austro-Húngaro era filho de um renomado rabino, foi criado em Viena e vivia com a segunda esposa e os cinco filhos em Nice.

Porém, o nome da nova marca de carros só foi registrado dois anos depois. Mais tarde, em 1926, a fusão da Daimler com a Benz deu origem à Mercedes-Benz, uma das mais famosas e prestigiadas fabricantes de veículos do mundo – e a única com nome de mulher.

Em 1933, a nomeação de Adolf Hitler como primeiro-ministro da Alemanha iniciou um dos mais sombrios períodos da história mundial. “Se o Adolf Hitler soubesse a origem do nome, duvido que a Mercedes-Benz fosse a marca preferida do Terceiro Reich” diz o jornalista Boris Feldman. Colecionador de carros antigos, ele que é um dos maiores especialistas do mundo na história do automóvel e tem profundo conhecimento acerca da trajetória da Mercedes-Benz.

Seja como for, os Mercedes-Benz viraram um dos símbolos do poderio nazista. Dessa forma, o próprio Führer costumava se deslocar, e desfilar, a bordo do suntuoso Mercedes-Benz 770K Model W150 Offener Tourenwagen. Da mesma forma, um Mercedes-Benz 540K Cabriolet B personalizado, de 1940, foi feito sob encomenda para Herman Goering. O militar era o líder do Partido Nazista.

Da mesma forma, Martin Bormann, chefe do Partido Nazista e segundo homem mais influente da Alemanha na época, tinha vários carros da marca.

Segundo a Mercedes-Benz, ao rebatizar os carros da DMG de Mercedes, o objetivo de Jellinek era homenagear a filha. Afinal, é notória sua ligação com ela. Ou seja, o empresário também batizou várias de suas propriedades com o nome da garota e ficou conhecido como “Senhor Mercedes”. Aliás, em julho de 1903 o cônsul obteve autorização para mudar seu nome para Emil Jellinek-Mercédès. “Provavelmente, é a primeira vez que um pai adota o nome de sua filha”, disse, à época.

Entretanto, alguns pesquisadores dizem que Jellinek pretendia evitar problemas judiciais. Isso porque, com a morte de Gottlieb Daimler, sócio de Wilhelm Maybach na DMG, em março de 1900, a companhia pôs à venda o nome comercial “Daimler”. Segundo Feldman, a história é outra. De acordo com ele, o cônsul atendeu a um pedido feito pela fabricante alemã.

Afinal, Jellinek encomendou várias alterações em alguns carros para poder participar de corridas. Porém, de acordo com Feldman, a DMG não queria seu nome ligado a provas automobilísticas, uma vez que acidentes (muitos com vítimas fatais) eram comuns.

De todo modo, o primeiro modelo da marca Mercedes foi o 35 PS, que participou da Semana de Corrida de Nice, em 1901. No contrato assinado por Jellinek com a DMG ficou acertado que os motores seriam chamados de Daimler-Mercedes. Ou seja, foi a primeira vez que a empresa alemã utilizou formalmente o nome Mercedes.

Vale dizer que o Mercedes 35 PS foi um grande sucesso em corridas e de vendas e é considerado por especialistas como um verdadeiro protótipo do automóvel moderno. De acordo com a Mercedes-Benz, o carro tinha “arquitetura progressiva e se tornou um modelo para toda a indústria automobilística.”

“Entramos na era da Mercedes”, disse Paul Meyan, então secretário-geral do Automóvel Clube da França, que organizou a Semana de Corrida de Nice, logo após a estreia do modelo. Depois disso, a DMG transformou o Mercedes 35 PS em um carro familiar ao instalar dois bancos na parte traseira. Como resultado, o sucesso foi tão grande que as linhas de produção passaram a operar com capacidade total para atender a demanda.

Vale dizer que a sigla PS é a abreviatura da palavra alemã “pferdestärke” (cavalo-força) e refere-se à potência gerada pelo motor. Em outras palavras, estamos falando de 35 cv (de cavalo-vapor, termo utilizado frequentemente no Brasil). O quatro-cilindros de 2,1 litros era derivado do utilizado no Daimler Phönix, de 1898 – primeiro veículo com esse tipo de propulsor no mundo e que também foi encomendado por Jellinek.

Segundo informações da marca, o Mercedes 35 PS tinha bons 2,35 metros de distância entre os eixos. Portanto, são 12 cm a menos que o de um Volkswagen Polo, por exemplo. Além disso, o motor era montado sobre o eixo dianteiro e ficava muito próximo ao chão.

Porém, o torque (força) era enviado às rodas de trás por meio de corrente. À direita do motorista ficava a haste do câmbio de quatro marchas à frente e uma à ré. De madeira, as rodas eram fixas e calçavam pneus de borracha maciça.

Os freios tinham sistema duplo. Ou seja, o principal era acionado manualmente e atuava nas rodas traseiras. O secundário, ativado por meio de pedal, tinha corrente e refrigeração a água. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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