Em seu segundo compromisso em Portugal para denunciar a prisão política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pré-candidato pelo Psol à presidência da República Guilherme Boulos resumiu em dois os principais desafios da esquerda no Brasil: resistir à escalada de ódio e à retirada de direitos, e aprender com o golpe sobre como construir soluções para a crise econômica e social. Destacando que o Brasil de 2018 não é mesmo de 2003, disse não ser mais possível reeditar alianças em uma situação onde ganham “os de baixo, e os de cima”.
“Quando o cobertor fica curto, tem que fazer escolha e esse é o momento atual. A esquerda precisa tomar lado de maneira categórica. Hoje, falar em governar para todos é mentir para alguém”, sentenciou Guilherme Boulos, durante debate com a participação de Rafa Mayoral (deputado do Podemos, da Espanha) e Joana Mortágua (deputada do Bloco de Esquerda, de Portugal), em evento organizado pelo Mídia Ninja e Coletivo Andorinha – Frente Democrática Brasileira de Lisboa e Casa do Alentejo. “Nossa resistência precisa vir com um projeto de futuro”, afirmou.
Para Boulos, é definitivamente necessário fazer a reforma tributária e política, a taxação das grandes fortunas, e promover a regulação do sistema financeiro e da mídia. “Com esse sistema político não se governa para fazer transformações”, falou, destacando que é preciso haver um governo que coloque o MDB na oposição, ao contrário das últimas décadas, em que o partido de Michel Temer sempre esteve no governo, independentemente do presidente da República.
Recordando a trajetória de fatos desde o impeachment até a prisão de Lula – o que inclui a mudança da legislação trabalhista, o congelamento do orçamento da União por 20 anos, a mudança na regra de exploração do pré-sal e os tiros contra a caravana de Lula no Sul do País –, o pré-candidato à presidência da República enfatizou que a esquerda brasileira precisa esquecer as “alianças falidas” e construir uma ampla unidade do campo progressista.
“Sabemos das diferenças no campo da esquerda, mas elas são saudáveis, devem permitir um debate amplo e democrático. Nossas diferenças não vão nos impedir de estarmos juntos para barrar a onda de retrocessos”, afirmou Boulos. “É preciso aprender com o golpe para ser capaz de apontar soluções e disputar novamente o poder.”
Críticas
Boulos caracterizou a atual situação política do Brasil como grave. “Quem achar que isso para no Lula não está entendendo a gravidade do processo que está acontecendo no Brasil. Estamos vivendo a maior crise democrática desde o fim da ditadura no Brasil. O Lula está preso por razões políticas, condenado sem nenhuma prova. Isso tem de ser denunciado”, afirmou.
Ele também fez duras críticas ao juiz federal Sérgio Moro. “Se o juiz Sérgio Moro quisesse, dentro da democracia, ser político, que fosse candidato a vereador em Curitiba. E não usasse da sua toga para interferir na democracia brasileira. Que resolvesse ser candidato a presidente da República e encarasse o debate democrático com o povo brasileiro. E não usasse sua condição de juiz para decidir quem participa e quem não participa do processo democrático. O Lula não está acima da lei, mas também não pode estar abaixo dela”, provocou.
