A tentativa da Flórida de adiar o início das aulas para garantir mais horas de sono aos adolescentes durou pouco. A proposta ganhou força em 2023, impulsionada pelo então presidente da Câmara estadual, o republicano Paul Renner, que se inspirou após ouvir o audiolivro *Por Que Dormimos*. Convencido da importância do sono para a saúde mental e o desempenho escolar, Renner passou a defender a mudança nos horários escolares como uma missão pessoal.
A nova legislação determinava que as escolas públicas de Ensino Médio só poderiam começar as aulas a partir das 8h30, enquanto as de Ensino Fundamental teriam início às 8h. A Flórida tornou-se o segundo estado dos EUA a aprovar esse tipo de medida — o primeiro havia sido a Califórnia. A meta era que todas as escolas do estado se adequassem até 2026. No entanto, a iniciativa foi revogada neste ano, após forte resistência de distritos escolares que alegaram dificuldades logísticas e aumento de custos.
“O horário de início das aulas é uma pauta que pode ser apoiada tanto por democratas quanto por republicanos”, argumentou Renner à época. Mas, após sua saída do cargo, o projeto perdeu força. Segundo críticos, o episódio é um exemplo de como políticas públicas podem fracassar quando dependem da atuação isolada de um político, mesmo diante de amplo respaldo científico.
A decisão de derrubar a lei frustrou alunos como Adelaide Sandwith, que estuda na Fort Walton Beach High School, onde as aulas começam às 7h. Com o cancelamento da medida, ela continuará acordando às 5h20 pelos próximos dois anos. “Sou basicamente um zumbi”, disse, relatando a dificuldade de manter a rotina matinal.
Diversos estudos apontam que os adolescentes passam por mudanças biológicas que os impedem de dormir antes das 23h. Por isso, especialistas afirmam que o início tardio das aulas melhora a qualidade do sono, o rendimento escolar e a saúde mental. Ainda assim, quase metade das escolas de Ensino Médio na Flórida começa as aulas antes das 7h30, segundo levantamento realizado para a Assembleia Legislativa.
A resistência à mudança também expôs divergências sobre o papel da escola. “É importante que as crianças durmam”, reconheceu a deputada estadual Anne Gerwig, coautora do projeto que revogou a medida. “Mas o ideal é que elas simplesmente durmam mais cedo e deixem de ficar acordadas jogando videogame.”
A Academia Americana de Pediatria, entre outras entidades médicas, recomenda que as aulas não comecem antes das 8h30. Apesar disso, apenas 24% das escolas públicas de Ensino Médio da Flórida seguem essa orientação. Para a historiadora da ciência Terra Ziporyn, fundadora do movimento *Start School Later*, “não adianta dizer às crianças que elas precisam dormir bem se o sistema educacional torna isso impossível”.
Alguns distritos chegaram a aplicar a mudança com sucesso. O Condado de Hillsborough, por exemplo, passou a iniciar as aulas às 8h30 em 2017, atendendo a pais, alunos e professores. Já o Condado de Volusia criou soluções como programas supervisionados antes do início das aulas e ajustes na logística de transporte e esportes. “Abordamos a questão com a mentalidade de que faríamos funcionar”, disse Rachel Hazel, ex-superintendente adjunta do distrito. Mesmo com experiências positivas, a proposta não sobreviveu ao cenário político atual da Flórida.