Os riscos climáticos têm ganhado cada vez mais peso nas decisões da Motiva (ex-CCR) de entrar em novas concessões, segundo o CEO Miguel Setas. O executivo relata que a companhia optou por não disputar leilões recentes ao detectar potencial de desabamentos ou enchentes, por exemplo.
“Atualmente, já tomamos decisões de não concorrer por ativos por conta do alto risco climático”, disse ele em entrevista exclusiva à Coluna na Green Zone da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, no Pará. Segundo o executivo, o tema é analisado junto com outros aspectos, como políticos, regulatórios, operacionais e financeiros.
Para ilustrar, Setas citou o caso de uma rodovia do litoral norte de São Paulo, que a Motiva optou por não disputar, mesmo tendo forte presença no Estado. “Entendemos que havia um risco muito grande relacionado a chuvas e desabamentos”, explicou.
O CEO avalia que o tema deve ganhar importância à medida que as tragédias relacionadas ao clima se tornam mais recorrentes e fortes. “As infraestruturas precisam ser mais resilientes, enquanto buscamos formas de mitigação e adaptação”, afirmou.
Em 2024, a ViaSul, estrada gaúcha administrada pela Motiva, foi fortemente impactada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A cobrança de pedágio chegou a ser completamente interrompida diante dos danos na infraestrutura.
Descarbonização dos transportes
Para Setas, não há uma “bala de prata” para reduzir emissões do setor de transportes, mas sim uma combinação de estratégias. Entre elas, a ampliação do uso de biocombustíveis e de veículos elétricos.
A lista inclui ainda uma melhor distribuição da matriz de transportes. O CEO destaca que a projeção é de que o setor rodoviário, considerado um dos mais poluentes, siga crescendo, em linha com a aceleração da economia brasileira. No entanto, para descarbonizar, os outros meios também precisam ganhar força.
“Em um País tão extenso como o Brasil os setores ferroviários e hidroviários podem ter um potencial muito maior, reequilibrando nossa matriz de transportes”, disse.
A Motiva é uma das líderes da Coalizão dos Transportes, aliança que reúne empresas, concessionárias e associações em torno da meta de reduzir em até 70% as emissões do setor até 2050. A iniciativa alcançou 121 entidades participantes às vésperas da realização da COP30. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
