A indústria brasileira manteve a tendência de perda de fôlego em maio. A produção industrial recuou 0,5% em relação a abril, após já ter diminuído 0,2% no mês anterior. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nessa quarta-feira (2) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O desempenho da indústria reforça nossa projeção de que a economia brasileira deve crescer menos do que em 2024. Entendemos que essa perda de fôlego é reflexo dos juros mais altos, que tendem a impactar os investimentos e provocar uma desaceleração da atividade econômica. Por isso, esperamos que o PIB (Produto Interno Bruto) cresça 2% em 2025. Para 2026, projetamos uma expansão de 1%, mas não descartamos um crescimento maior, devido à força da demanda doméstica e, em particular, dos investimentos na capacidade produtiva”, avaliou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, em comentário.
O ciclo de elevação da taxa básica de juros, a Selic, já tem impactado a economia brasileira, incluindo a indústria, corroborou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE.
“Desde o segundo semestre do ano passado há uma elevação na taxa Selic. Isso, claro, tem o intuito de frear os impactos do avanço inflacionário via consumo. Claro que isso traz reflexos para dentro da economia, inclusive para o setor industrial”, afirmou Macedo.
Ele explica que o encarecimento do crédito provoca um adiamento de decisões de consumo por parte das famílias e também um adiamento de decisões de investimentos por parte das empresas. Somado a isso, o cenário externo inclui turbulências internacionais, como as tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos a parceiros comerciais e os conflitos em curso no Oriente Médio.
“Isso traz também um ambiente de incerteza e também traz reflexo para dentro do comportamento não só da economia, mas também para o setor industrial (brasileiro)”, afirmou o pesquisador do IBGE.
Pelo lado positivo, a demanda doméstica ainda conta com o suporte de um mercado de trabalho aquecido, com taxa de desemprego baixa e massa de renda recorde.
“Há fatores se contrabalançando”, resumiu Macedo. “Os efeitos que vêm dessa política monetária de caráter mais restritivo é claro que estão de alguma forma suplantando essas características positivas que vêm do mercado de trabalho”, completou.
A queda na produção industrial nacional em maio ante abril foi puxada por perdas, sobretudo, na produção de veículos (-3,9%) e de derivados do petróleo (-1,8%). Houve contribuições negativas também relevantes em produtos alimentícios (-0,8%), produtos de metal (-2,0%), bebidas (-1,8%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-1,7%) e móveis (-2,6%).
Na direção oposta, entre as 11 atividades com expansão, o principal impacto positivo partiu das indústrias extrativas, com alta de 0,8%. O setor acumulou uma expansão de 9,4% em quatro meses seguidos de avanços. Outras elevações significativas em maio foram registradas por produtos farmacêuticos (3,0%), produtos de borracha e de material plástico (1,6%), calçados (3,2%) e produtos químicos (0,6%).
“É difícil extrapolar, no momento, esse resultado para os próximos meses, mas percebemos sinais incipientes de desaceleração, principalmente no segmento da ‘indústria de transformação’. Dito isso, acreditamos que a composição da produção industrial em 2025 será diferente daquela verificada em 2024: enquanto no ano passado o crescimento da indústria foi pautado quase que exclusivamente na parte de ‘transformação’, em 2025 o segmento da ‘indústria extrativa’ deve ganhar relevância. Esse cenário deriva da percepção de que o patamar altamente contracionista da política monetária vai afetar de maneira progressiva a ‘indústria de transformação’, que é mais sensível aos juros”, estimou Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partners, em comentário.
O agregado da indústria de transformação registrou uma queda de 0,4% em maio ante abril, enquanto as indústrias extrativas cresceram 0,8%. Na comparação com maio de 2024, a produção da indústria de transformação cresceu 2,3% em maio de 2025, enquanto as extrativas aumentaram 8,7%.
Na média global, a indústria como um todo avançou 3,3% em maio de 2025 ante maio de 2024. No acumulado do ano, que tem como base de comparação o mesmo período do ano anterior, a produção industrial teve uma alta de 1,8%. No acumulado em 12 meses, a produção subiu 2,8%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.