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Inflação e alta de juros frustram otimismo dos investidores

Para os meses que restam até o encerramento do ano, gestores consideram o cenário difícil de navegar. (Foto: Reprodução)

Nem renda fixa nem Bolsa. O início do segundo semestre frustrou as expectativas de um período mais positivo para os ativos brasileiros, a partir do avanço da vacinação e dados de atividade mais promissores. Pressões inflacionárias, com chances de o Comitê de Política Monetária (Copom) acelerar o ritmo de aumento da Selic, têm preocupado os investidores.

Para os meses que restam até o encerramento do ano, gestores consideram o cenário difícil de navegar. Mesmo assim, ações, multimercados e ativos de crédito seguem no mapa de alocação.

“Neste mês, o risco não compensou”, diz Marcelo Giufrida, sócio e gestor da Garde Asset Management. O vento contra vem de um ajuste monetário que deve ser acelerado pelo Banco Central (BC) para conter a alta de preços na economia.

Nesse ambiente, ele diz que fundos de pensão começam a se interessar mais por ativos pós-fixados, debêntures, multimercados e fundos de crédito. As fundações são particularmente sensíveis porque as metas atuariais são atreladas à inflação mais um adicional. A pessoa física tem preferido produtos de crédito ligados ao CDI.

Enquanto ações e o câmbio apresentaram melhora desde o segundo trimestre, os juros longos não acompanharam. Embora as taxas de dez anos estejam na faixa de 9%, 9,5% ao ano, as posições prefixadas deixam o investidor vulnerável à inflação, diz Giufrida.

“Quem fez pré [prefixado] nos últimos seis meses não ganhou dinheiro. A oscilação do índice desses papéis foi de -1,25% versus uma Selic de 1,43% no período. É um custo de oportunidade de quase 3%. Não parece muito, mas o investidor não vê o dinheiro andar.”

Quando se tira a inflação, pior ainda. Giufrida afirma que quando a curva de inflação começar a se inverter pode ser uma alternativa interessante, mas no curto prazo, a renda fixa tem sido “traiçoeira”.

O gestor diz preferir as Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), ou Tesouro IPCA, mas esse é também um terreno escorregadio, alerta. Embora a correção pela inflação ofereça alguma proteção para o investidor, ele pode perder na atualização das taxas a preços de mercado no meio do caminho. Vale para quem quer carregar o ativo até o vencimento.

Mesmo o câmbio, que veio da faixa de R$ 5,80 na virada do primeiro trimestre para a casa dos R$ 5, não oferece uma aposta segura. Em contrapartida a uma balança comercial robusta e a volta do estrangeiro para ações e renda fixa, Giufrida alerta que há pontos de pressão adiante. Com as discussões sobre a reforma tributária, há a possibilidade de as empresas anteciparem o pagamento de dividendos, com o fluxo indo para fora. A mudança na contribuição sobre o lucro líquido (CSLL) dos bancos e o “overhedge” no fim do ano são outro componente que formam uma “bolha de saída potencial de dólares”.

“Esse tem sido o nosso diapasão. A gente vê os ativos brasileiros atrelados ao macro com mais preocupação”, diz Giufrida. No seu multimercado, a preferência é a combinação entre ações locais e internacionais, em teses de transformação secular, companhias que tenham um hedge natural ou ligadas aos setores de tecnologia e de energia lá fora. “Temos conseguido montar um portfólio menos dependente do macro.”

A desvalorização recente dos ativos deve ser encarada como uma oportunidade, diz Paulo Corchaki, sócio-fundador da Trafalgar. Num período que classifica como “meio de ciclo”, em que a recuperação econômica global já não é tão forte como se viu quando saiu da recessão, há ainda como capturar ganhos relacionados ao crescimento da atividade.

O Brasil, que ao longo do primeiro semestre ficou fora das principais apostas ligadas à tese da retomada, agora deve se beneficiar da aceleração da imunização contra a covid-19, avalia o gestor. “Os Estados Unidos eram o cavalo mais óbvio e o Brasil não parecia ser o candidato a reabrir rapidamente a economia, mas o que está se vendo agora, e que as pesquisas mostram, é que o brasileiro é menos reativo à vacinação do que o americano.”

Apesar de problemas na cena macro e política, do lado micro, Corchaki diz que os resultados das empresas têm vindo bem, principalmente nas ligadas à cadeia de commodities. “Num cenário esquisito, de o real se desvalorizar, é um segmento na bolsa que traz certa segurança para o investidor.”

O gestor diz gostar hoje mais da Bolsa brasileira do que de ações no mercado global, mas ele ainda vê um ambiente negativo para parte dos papéis do setor bancário, que vem sofrendo o ataque de companhias de tecnologia financeira em várias frentes. “Cada vez mais a turma das fintechs recebe aportes, fica mais musculosa para a briga.”

Em estratégias ligadas a juros, o gestor diz que tem sido mais cauteloso. “Tem prêmio na curva, os juros estão razoavelmente gordinhos, mas a gente acha que a assimetria não é boa. Se tudo der certo, ok, mas, se não, o risco é grande.” Por mais que espere que a inflação seja mais comportada no ano que vem, ele diz que a eleição entra com mais recorrência na pauta, que se soma a questões fiscais de difícil resolução. As informações são do jornal Valor Econômico.

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