Os rumos da Operação Lava-Jato serão um dos principais componentes da eleição para a PGR (Procuradoria-Geral da República), cuja campanha começou nos últimos dias. Não bastassem os adversários internos, o atual chefe do MPF (Ministério Público Federal), Rodrigo Janot, enfrenta rejeição por parte de políticos como os presidentes da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB. Eles foram incluídos por Janot no rol de suspeitos de envolvimento no escândalo da Petrobras.
O mandato de Janot se encerra no dia 17 de setembro. Embora tenha evitado responder diretamente aos questionamentos sobre a sua atuação, na carta de apresentação de sua candidatura ele relata que tem sofrido ameaças e define o atual momento como “crítico”. Nos bastidores da PGR, há uma expectativa de que ele possa contar com um triunfo na disputa: é dele a primeira denúncia de um político investigado na Lava-Jato, que deve ocorrer em julho ou agosto.
O prazo para as investigações expira no fim deste mês, quando o procurador-geral deve decidir se pede nova prorrogação do prazo para apuração dos fatos, se oferece denúncia ou se arquiva os inquéritos contra os investigados.
Candidatos
Depois da votação, marcada para o dia 5 de agosto, quatro nomes deverão ser submetidos à presidenta Dilma Rousseff, que indicará um dos candidatos para o cargo de procurador-geral. Em seguida, o escolhido passará por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça e pela aprovação no plenário do Senado.
Além de Janot, concorrem ao posto os subprocuradores Carlos Frederico Santos, Márcio Bonsaglia e Raquel Dodge.
Em âmbito interno, Bonsaglia é tido como um aliado de Janot, ao passo que Raquel responde pela oposição moderada e Santos representa o adversário mais severo.
“Dentre os aspectos que eu vejo de forma crítica está o modo de proceder da Lava-Jato no STF [Superior Tribunal Federal]”, declarou Santos, recentemente, ao jornal O Estado de S. Paulo. “Há uma demora excessiva em relação a isso e a sociedade precisa de resposta mais rápida.”
Para alguns procuradores, trata-se de um “Eduardo Cunha da PGR”. A comparação é alusiva à contundência do presidente da Câmara contra Dilma. Pesa contra Santos, ainda, o fato de ter ocupado a secretaria-geral da PGR na época em que o procurador-geral era Antônio Fernando Souza, que agora atua como advogado de defesa de Cunha na Lava-Jato. Ele confirma a sua amizade com Souza, mas nega conhecer Cunha pessoalmente.
Já Raquel tem entre as suas metas a maior adequação da atividade do MPF a objetivos gerais, como a melhorias em saúde, educação, cidadania e direitos humanos, dentre outras áreas. Ela defende, por exemplo, a necessidade de forte combate à corrupção, especialmente em casos de prejuízos à população, a exemplo dos desvios de recursos destinados a creches e hospitais.
Bonsaglia, por sua vez, tem se apresentado como um candidato mais “independente”. A sua candidatura, porém, é considerada muito próxima a Janot. “É necessário preservar e fazer avançar as iniciativas em curso”, frisa o subprocurador. “A estrutura de apoio à PGR, criada na atual gestão, deve ser mantida.” (Marcello Campos com agências)
