Para tentar realizar o sonho de ser mãe, muitas mulheres estão usando as redes sociais com o intuito de encontrar um homem disposto a ceder uma pequena quantidade de sêmen, para ela mesma poder inserir em seu corpo, em casa. Parece surreal? A prática que pode trazer riscos para a saúde da mulher, no entanto, tem ganhado adeptos, principalmente entre casais homoafetivos femininos, mulheres que querem engravidar de forma independente e casais héteros, quando o homem apresenta algum problema que afete a fertilidade, como a qualidade e a quantidade de seus espermatozoides, por exemplo.
São vários os grupos disponíveis no Facebook que tratam do assunto, por exemplo. Em uma rápida pesquisa, é possível encontrar pelo menos 45 deles. O maior, com o nome de Inseminação Caseira Gratuita, de São Paulo, reúne mais de 9 mil membros.
A solução convencional é recorrer a uma clínica de reprodução humana para realizar a inseminação artificial (quando o sêmen do homem é depositado direto no útero feminino). A grande barreira, no entanto, é o custo do procedimento, que varia entre R$ 2 mil e R$ 4 mil (quando utilizado o sêmen do próprio parceiro) e chega a custar cerca de R$ 20 mil (com sêmen do laboratório ou banco).
Em alguns hospitais públicos, como o Hospital das Clínicas e o Perola Byington, em São Paulo (SP), é possível realizar os procedimentos de forma gratuita. Nestes casos, é preciso atender aos pré-requisitos de cada instituição, que podem envolver a renda e a comprovação de disfunções na fertilidade. Além disso, quem opta por esses programas deve estar disposto a enfrentar uma longa fila de espera, que costuma ultrapassar mais de um ano.
Já no “método” caseiro, basta um pote de coleta (como aquele usado em exames de urina) e uma seringa. Na prática, o sêmen de um doador é depositado num pote de coleta e, logo em seguida, transferido para dentro da vagina da receptora com a ajuda de uma seringa. Ao contrário do que acontece na inseminação artificial em clínicas, nestas situações, o doador não costuma ser anônimo.
O procedimento é feito sempre no período fértil, às vezes, repetidamente no mesmo ciclo menstrual a fim de aumentar as chances de gravidez. Com a disseminação da prática na internet já existe até a possibilidade de comprar online um kit, que inclui testes de ovulação e até um cateter para conduzir o esperma até bem próximo ao útero. A média de preço é de R$ 100.
Os riscos à saúde
O ginecologista e obstetra Renato Tomioka, especialista em medicina reprodutiva da clínica Vida Bem Vinda (SP), alerta que por se tratar da introdução de um material biológico sem avaliação adequada, há diferentes riscos para a saúde.
“Pode haver a transmissão de várias doenças, entre elas, a infecção genital e a contaminação do sêmen por vírus como HIV, hepatites e zika, que podem comprometer a saúde da mãe e do futuro bebê. Além disso, podem ocorrer traumatismos vaginais, devido à manipulação inadequada dos materiais”, explica.
A ginecologista e obstetra Juliana Amato, da Sociedade Paulista de Medicina Reprodutiva, confessa que as chances de um teste de gravidez positivo depois do procedimento doméstico realmente acontecem, mas é preciso levar em conta todos os riscos, não só de saúde, como também psicológicos, éticos e jurídicos.
O Código Civil prevê na Lei 9.434/97, em seu artigo 9º, que é permitido à pessoa dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, desde que não haja comercialização.
Já o Conselho Federal de Medicina determina que a doação de gametas (espermatozoides e óvulos) deve ser anônima e sem trocas financeiras entre receptor e doador. Além disso, os pais devem ter, no máximo, 50 anos de idade. Os fatos não têm como ser fiscalizados quando é feita a inseminação caseira.
