Um programa de inteligência artificial (IA) parece ser capaz de reduzir a carga de trabalho dos radiologistas na detecção do câncer de mama, segundo os primeiros resultados de um estudo publicado no mês passado, embora seja cedo para concluir sobre sua eficácia. Realizado na Suécia e publicado na The Lancet Oncology, o estudo afirma também que não há riscos no uso de IA para orientar as análises dos radiologistas.
Os pesquisadores separaram cerca de 80 mil mulheres em dois grupos, de tamanhos semelhantes. Cada uma delas realizou uma mamografia, mas os resultados do primeiro grupo foram analisados da forma convencional, ou seja, por dois radiologistas independentes, enquanto os dados do segundo passaram primeiro pela análise de uma IA e, depois, por apenas um radiologista.
A análise feita por inteligência artificial não apresentou um desempenho pior, e até mesmo detectou um maior número de tumores em seu grupo. Por outro lado, a taxa de “falsos positivos” – casos nos quais o primeiro exame detecta falsamente um câncer – foi similar. O uso desta tecnologia pode reduzir pela metade a carga de trabalho desses médicos, porque o procedimento que envolve a IA precisa de apenas um radiologista.
Os resultados são considerados promissores porque os exames de detecção são uma das principais formas de combater o câncer de mama. “O grande potencial da inteligência artificial neste momento é que poderia reduzir o estresse dos radiologistas pela quantidade excessiva de análises” de exames, disse Kristina Lang, radiologista da Universidade Lund, na Suécia, e autora principal do estudo.
No entanto, Lang acredita que os promissores resultados preliminares não são “suficientes por si só para confirmar que a IA está pronta para ser implementada nas mamografias de triagem”, segundo escreveu em um comunicado.
Neste sentido, os pesquisadores preveem comparar dentro de dois anos a taxa de cânceres diagnosticados que não foram detectados nas análises. Os dados do estudo lançam luz sobre o risco de “sobrediagnóstico”, ou seja, a detecção de tumores que não teriam se convertido em perigosos sem tratamento.
A questão do “sobrediagnóstico” concentra as críticas contra a política de testes generalizados, embora as pesquisas confirmem seu papel em reduzir a mortalidade por câncer de mama. O risco de sobrediagnóstico “deveria despertar a cautela em relação à interpretação dos resultados”, advertiu o oncologista Nereo Segnan, que não participou do estudo, em declaração à The Lancet Oncology.
Stephen Duffy, professor de detecção de câncer na Universidade Queen Mary, em Londres, que não participou do estudo, indica que a IA pode ter diagnosticado em excesso certas formas de câncer de mama inicial, chamado carcinoma ductal in situ. No entanto, elogiou o “estudo de alta qualidade” e disse que reduzir a carga de trabalho dos radiologistas é “uma questão de considerável importância”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e da agência de notícias AFP.