O bilhete manuscrito apreendido na casa do chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) expôs uma pequena parte da grande ofensiva que atua no Congresso Nacional para mudar ou criar leis com o objetivo de favorecer negócios envolvendo bancos em liquidação extrajudicial. A articulação começou em 2010 e procurou alterar, por intermédio de emendas e contrabandos, pelo menos nove MPs (medidas provisórias). Por trás de toda essa pressão estão em jogo dezenas de bilhões de reais.
Investigadores que acompanharam e analisaram a tramitação dessas nove MPs afirmam que é possível identificar nelas a digital material ou intelectual do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A atuação do parlamentar a favor dos interesses dessas instituições ficou explícita a partir da MP 472, convertida depois na Lei 12.249.
Após a sanção da lei, Cunha levou Marcos Catão Magalhães Pinto, um dos herdeiros do espólio do Banco Nacional, para um encontro com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Ali cobrou que os benefícios da nova lei contemplassem também os bancos em liquidação extrajudicial. O objetivo era forçar o governo a aceitar créditos do chamado Fundo de Compensações Salariais no pagamento de dívidas dos bancos em liquidação com a União. A Lei 12.249 criou um plano especial para pagamentos de dívidas com fundações ou autarquias. (AG)
Investigadores veem digital de Eduardo Cunha em nove medidas provisórias que beneficiam bancos

Residências de Eduardo Cunha foram alvos da ação da PF (Foto: Renato Costa/Folhapress)