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Juros enfrentam obstáculos para nova rodada de queda em 2024

Mercados já colocam Selic em torno de 9% ao fim do próximo ano. (Foto: Reprodução)

Mesmo após um recuo expressivo em 2023, que levou os juros de médio prazo da faixa dos 13% no início do ano para a casa atual dos 9,5%, há algum espaço, segundo participantes do mercado, para que as taxas se mantenham em trajetória de queda no próximo ano. Os níveis mais baixos dos juros nominais, contudo, têm feito gestores optarem por reduzir posições em taxas de curto prazo, enquanto veem com bons olhos os juros reais (descontada a inflação), que ainda estão em níveis elevados e, assim, podem capturar a continuidade do ciclo de cortes na Selic e garantir proteção contra um possível repique inflacionário.

O início de ano foi de estresse elevado nos mercados. A desconfiança dos agentes em torno da condução da política fiscal levou o mercado a precificar a chance de a Selic chegar a 15%. Uma distensão só se materializou de forma mais profunda no fim de março, com a apresentação do arcabouço fiscal, que ajudou a retirar prêmios das curvas de juros. A turbulência nos Treasuries reverteu essa dinâmica no terceiro trimestre, mas, nos dois últimos meses do ano, o otimismo voltou a dar as caras no mercado.

Os juros futuros, assim, chegam ao fim de dezembro nos menores níveis de 2023. E, diante de sinais da autoridade monetária de que o ritmo de cortes na Selic deve ser mantido em 0,5 ponto percentual ao menos nas duas próximas reuniões, investidores discutem até onde o BC pode reduzir a taxa básica.

Com os preços de mercado indicando que a Selic deve alcançar 9% no fim de 2024, gestores avaliam que as oportunidades no mercado de juros nominais estão menores, ainda que a possibilidade de o Federal Reserve (Fed) antecipar o início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos possa garantir retornos adicionais para a classe de ativos em 2024.

Riscos possíveis

Como exemplos de possíveis riscos à frente, Guilherme Gaertner, diretor da Canvas Capital, cita a troca no comando do Banco Central no fim do próximo ano e a possibilidade de a nova composição da autoridade monetária não perseguir o centro da meta de inflação com tanta ênfase. “E as NTN-Bs também acabam se beneficiando caso os juros nominais recuem”, lembra.

De fato, o desempenho dos juros nominais e reais tem sido contrastante ao longo deste ano, especialmente em prazos mais longos. A taxa do DI para janeiro de 2027 saiu de 12,92% no início do ano, chegou a 13,28% e caiu a 9,715% na sexta-feira. Já a taxa da NTN-B com vencimento em agosto de 2026 passou de 6,36% em janeiro para 5,19% na semana passada.

Curva nominal

Na medida em que a maioria dos economistas de mercado espera que a Selic fique entre 9% e 9,5% no fim de 2024 e que a curva de juros aponta uma taxa final de 9%, os agentes avaliam que os prêmios estão magros, ou seja, que o retorno em uma aposta em juros curtos ainda menores pode ser baixo. Nesse sentido, até mesmo casas mais fora do consenso nas projeções de Selic, como é o caso da Galapagos Capital, que espera a taxa em 8% no fim de 2024, veem prêmios “pouco atrativos” na parte curta da curva de juros nominais.

“Ficamos ao longo do ano com posições aplicadas na curva nominal. Em alguns momentos, ficamos aplicados na curva real, mas, agora, estamos migrando as posições para os juros reais nos anos de 2024, 2025 e 2026”, diz Fabio Guarda, sócio e gestor da Galapagos. Ele observa que a inflação “implícita”, que é extraída pela diferença entre os juros futuros e as taxas das NTN-Bs, está em níveis baixos e, em alguns casos, muito próximos do projetado no Boletim Focus.

No entanto, o gestor da Galapagos também começa a enxergar com bons olhos posições que apostem em um aumento da inclinação da curva de juros, ou seja, em uma diferença maior entre as taxas longas e as mais curtas. Essa aposta se deve, em especial, a um cenário fiscal que ainda se mostra repleto de incertezas, na visão do gestor. “Não vejo como uma aposta para agora, já que temos visto bastante fluxo e o momento é de bom humor no mercado, mas, em algum momento, devemos ter posições em inclinação no ano que vem”, afirma.

 

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