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Laboratório pioneiro de reprodução equina com ICSI começa a operar no Sul

A operação do laboratório marca um novo capítulo na biotecnologia aplicada à equinocultura brasileira. (Foto: InVitro Equinos/Divulgação)

Uma revolução silenciosa está em curso na reprodução de cavalos de elite no país. Entrou em operação, no Rio Grande do Sul, o primeiro laboratório de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI) para equinos do Sul do Brasil. A técnica, considerada a mais avançada em reprodução assistida, permite a produção de embriões em laboratório com uso mínimo de material genético — inclusive de animais já falecidos — e representa um salto no melhoramento genético dos plantéis.

Instalado em Pelotas, o laboratório InVitro Equinos Sul é fruto da parceria entre o médico veterinário gaúcho Felipe Hartwig e a maior rede de embriões in vitro do mundo. “Já produzimos embriões aqui, prontos para serem transferidos às receptoras, e temos tecnologia para atender à crescente demanda do mercado. Em 2024, mais de dois mil embriões foram gerados por ICSI para criadores gaúchos, que até então precisavam enviar os óvulos para São Paulo”, afirma Hartwig, especialista em fertilidade equina com mais de 15 anos de experiência.

A técnica de ICSI consiste na coleta de óvulos que, em laboratório, são maturados e fertilizados com espermatozoides injetados diretamente em seu interior. Após cerca de dez dias de incubação, o embrião está pronto para ser transferido ou criopreservado. O processo é altamente preciso e permite que éguas atletas continuem competindo sem precisar gestar, além de beneficiar fêmeas com baixa ovulação ou idade avançada.

Para os criadores, o maior impacto está na possibilidade de preservar e multiplicar a genética de garanhões raros ou com sêmen escasso. “O uso dessa tecnologia é super indicado porque quem faz o trabalho pesado é a agulha. Basta o espermatozoide estar com o DNA íntegro”, explica Hartwig. Isso significa que mesmo animais senis ou já mortos podem continuar contribuindo geneticamente para a raça.

É o caso de Ganadero da Harmonia, considerado o garanhão vivo mais importante da raça crioula. Campeão do Freio de Ouro e pai de diversos vencedores, Ganadero está aposentado das coletas, mas seguirá reproduzindo sua genética por meio da técnica de ICSI. “Ele já tem palhetas de sêmen congeladas. A produção de novos embriões será muito importante para a raça. Estamos falando de um verdadeiro patrimônio da raça crioula, que aos 30 anos é o garanhão vivo com a maior pontuação no registro de mérito da ABCCC”, destaca o veterinário.

Além da eficiência reprodutiva, a técnica oferece controle genético avançado. É possível selecionar o sexo do embrião com sêmen sexado, realizar biópsias para detectar doenças hereditárias e até prever a pelagem do futuro animal antes da transferência. Isso representa um avanço significativo para criadores que buscam precisão na formação de seus plantéis.

Com a chegada da InVitro Equinos Sul ao Rio Grande do Sul, criadores da região passam a contar com uma estrutura de ponta para reprodução assistida, sem a necessidade de deslocamentos para outros estados. A expectativa é que a técnica se torne cada vez mais acessível e amplamente utilizada, especialmente entre criadores de raças de alto valor genético, como a crioula, quarto de milha e puro-sangue inglês.

A operação do laboratório marca um novo capítulo na biotecnologia aplicada à equinocultura brasileira, colocando o Sul do país na vanguarda da reprodução equina e oferecendo aos criadores ferramentas para preservar, multiplicar e aprimorar a genética de seus animais com precisão e segurança. (por Gisele Flores)

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