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Laudo da Polícia Federal indica pressão do presidente Michel Temer sobre o BNDES em favor da JBS/Friboi

Empresário Joesley Batista gravou conversa com o presidente da República. (Foto: Divulgação)

Análise feita pela PF (Polícia Federal) da conversa que o presidente Michel Temer teve com o empresário Joesley Batista em março sugere que o peemedebista disse ao dono da JBS/Friboi ter pressionado o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em favor da empresa em janeiro deste ano.

Melhorias feitas no áudio da conversa, que foi gravada por Joesley secretamente, permitiram aos peritos da PF reconstituir trechos do diálogo que antes estavam inaudíveis, segundo o laudo da polícia. No encontro, Joesley afirma ter ouvido do ex-ministro Geddel Vieira Lima que houve empenho e esforço com “o BNDES e aquela operação lá”. De acordo com trecho que os peritos da PF dizem ter recuperado agora, o presidente da República responde então ao empresário: “Sabe que eu fui em janeiro pressionar”.

O contexto da conversa sugere que a pressão relatada por Temer ocorreu sobre a então presidente do BNDES, Maria Silvia Marques Bastos. Isso porque, um pouco mais adiante, o peemedebista completa: “Muito recentemente eu a chamei, porque ela tá travando muito crédito”, de acordo com transcrição feita pelos peritos da PF.

“Eu chamei e ela veio me explicar”, disse Temer. Ele relata então o diálogo travado com Maria Silvia. “Aquele [ininteligível] da JBS, deu para fazer [ininteligível]?”, perguntou Temer, segundo a PF. “Nós fizemos de outro jeito que deu certo”, disse a presidente do BNDES, sempre de acordo com o que a PF afirma que Temer declarou na conversa.

O encontro do presidente com Joesley Batista ocorreu no dia 7 de março deste ano no Palácio do Jaburu, em Brasília. Em 2016, a JBS anunciou um plano de reestruturação, mas teve de cancelá-lo após o veto do BNDES, cujo braço de investimentos, o BNDESpar, é sócio da JBS.

A intenção da família Batista era transferir a sede da empresa para a Irlanda, transformando a operação brasileira em uma subsidiária dessa companhia internacional, e lançar ações da nova JBS na Bolsa de Nova York (EUA). O plano foi divulgado em 11 de maio de 2016, um dia antes de Temer assumir a Presidência interinamente, com o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff. Os investidores adoraram a ideia e as ações se valorizaram em seguida.

Mas os Batista não conseguiram aval do BNDES e, no final de outubro, abandonaram o projeto. Em nota divulgada na ocasião, o banco afirmou que a proposta implicaria na “desnacionalização” da gigante de alimentos e que a vetara porque não atendia “aos interesses da companhia e de seus acionistas”.

O banco afirmou na semana passada que Maria Silvia tratou do assunto com Temer em um encontro em 24 de outubro de 2016, quando teria comunicado ao presidente a decisão de vetar a operação. Ela nega ter sofrido pressões. As ações da JBS sofreram um baque após o veto do banco. Mas a queda no preço dos papéis foi logo recuperada com a divulgação, em 5 de dezembro de 2016, de um novo plano. A JBS anunciou no início daquele mês que sua sede permaneceria no Brasil e que, nos EUA, seriam lançadas ações de uma subsidiária, a JBS Foods International.

A Presidência da República não quis comentar os trechos recuperados pelos peritos da PF. O BNDES afirmou que o único encontro entre Maria Silvia e o presidente para tratar da mudança da sede da JBS foi o ocorrido no dia 24 de outubro de 2016. Segundo o banco estatal, não houve outra reunião com Temer sobre esse assunto. (Folhapress)

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