Ícone do site Jornal O Sul

Levantamento feito por satélite aponta mais de 1 mil e 200 pistas clandestinas a serviço do garimpo na Amazônia

Foto mostra garimpeiros abrindo estrada no Pará no meio da floresta amazônica para levar maquinário para os garimpos. (Foto: Chico Batata/Greenpeace)

Garimpeiros ilegais que atuam na floresta amazônica têm utilizado cerca de 1,2 mil pistas de pouso irregulares para impulsionar a atividade na região. As informações são do jornal The New York Times, que publicou uma reportagem com base em imagens de satélites analisadas desde 2016.

A 800 metros de altitude, a pista de pouso de terra parece só uma fenda em um oceano aparentemente interminável de floresta tropical, cercado por poços de mineração lamacentos que sangram produtos químicos tóxicos no leito do rio.

A pista de pouso é de propriedade do governo brasileiro – a única maneira de as autoridades de saúde chegarem aos indígenas na aldeia vizinha. Mas garimpeiros ilegais a capturaram para receber pequenos aviões que transportam equipamentos e combustível até áreas onde não existem estradas. E quando um avião que os mineiros não reconhecem se aproxima, eles espalham tonéis de combustível ao longo da pista para impossibilitar o pouso.

“A pista de pouso agora pertence aos mineiros”, disse Junior Hekurari, um agente de saúde indígena.

‌Os mineiros ‌também construíram outras quatro pistas de pouso nas proximidades, todas ilegalmente, impulsionando uma expansão rápida da mineração ilegal nas terras supostamente protegidas do povo Yanomami. A atividade criminosa saiu do controle e os agentes públicos estão com medo de retornar.

Aquele conjunto grupo de pistas de pouso é apenas uma parte de todas aquelas que dão suporte à mineração ilegal de ouro e estanho nos cantos mais remotos da floresta amazônica. Entranhadas na paisagem densa e exuberante, elas fazem parte de vastas redes criminosas que operam em grande parte sem controle devido à negligência ou ineficácia das agências reguladoras e de fiscalização no Brasil, incluindo as dos militares.

Usando imagens de satélites, o jornal The New York Times identificou 1.269 pistas de pouso não registradas em toda a floresta amazônica brasileira no ano passado, muitas das quais abastecem uma próspera indústria ilícita que cresceu sob o presidente Jair Bolsonaro do Brasil.

Repórteres do Times coletaram localizações em potencial de pistas ilegais colaborando com a Rainforest Investigations Network, um projeto de reportagem do Pulitzer Center, e com o repórter Hyury Potter, do Intercept Brasil, um fellow do Pulitzer. Outras localizações foram coletadas em bancos de dados públicos, imagens de satélites e com analistas geoespaciais.

Bolsonaro tem enfrentado constantes críticas globais por permitir que a Amazônia seja saqueada durante seu governo. Autoridades dizem que a rápida disseminação da mineração ilícita sob vigilância dele pode prejudicar milhões de pessoas cujos meios de subsistência dependem dos rios da Amazônia e acelerar a destruição da maior floresta tropical do mundo.

A Amazônia atua como uma esponja gigante, mantendo dezenas de bilhões de toneladas de dióxido de carbono fora da atmosfera. Mas está sob ataque incessante nos últimos anos — sofrendo extração de madeira, queimadas extensas para agricultura, mineração e outras ameaças legais e ilegais.

Pesquisas recentes mostram que as mudanças climáticas e o desmatamento generalizado estão levando a floresta tropical a um ponto de inflexão que pode destruir sua capacidade de se recuperar de tais danos. Isso poderia, em última análise, liberar o equivalente a anos de emissões globais na atmosfera e tornar mais difícil combater o aquecimento global.

Desde que assumiu o cargo em 2019, Bolsonaro tem defendido indústrias que impulsionam a destruição da floresta tropical, levando a níveis recordes de desmatamento. Ele afrouxou as regulamentações para expandir a extração de madeira e a mineração na Amazônia e reduziu as proteções. Ele também cortou fundos federais e pessoal, enfraquecendo as agências que fazem cumprir as leis indígenas e ambientais.

Bolsonaro há muito tempo defende a legalização da mineração em terras indígenas, Ele até mesmo visitou uma mina ilegal de ouro em uma área protegida, dando um sinal público de seu apoio a atividades ilícitas na Amazônia Brasileira.

“Não é justo criminalizar os garimpeiros”, disse Bolsonaro a apoiadores do lado de fora de sua casa em Brasília no ano passado.

Somente nas terras Yanomami – cerca de 100 mil km², ou aproximadamente o tamanho de Portugal – as autoridades policiais estimam que 30 mil garimpeiros estejam trabalhando ilegalmente em território protegido pelo governo. No entanto, há pouca fiscalização. Nos últimos anos, esse contingente aumentou, causando confrontos mortais, deslocamento de comunidades indígenas, rápido desmatamento e destruição de terras e rios, com níveis impressionantes de mercúrio tóxico agora encontrados na água.

A mineração ilegal em terras Yanomami perto da fronteira do Brasil com a Venezuela é uma janela para o que está acontecendo na floresta amazônica, que cobre cerca de 60% do país.

Muitas das 1.269 pistas de pouso não registradas identificadas permitiram que as aeronaves pousassem em áreas ricas em minérios de ouro e estanho. Sem aviões, seria quase impossíveis alcançá-las, por causa da densa floresta tropical e do terreno montanhoso. As informações são do jornal The New York Times.

Sair da versão mobile