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Liberada após doping, russa de 15 anos vai à final da patinação artística na Olimpíada de Inverno

Valieva se apresentou ao som de “In Memoriam”, de Kirill Richter. (Foto: Getty Images)

Em meio à maior polêmica das Olimpíadas de Inverno até aqui, Kamila Valieva, de apenas 15 anos, voltou ao Estádio Indoor de Pequim nessa terça-feira (15). A russa, liberada a competir mesmo após ser flagrada em exame antidoping, garantiu seu lugar entre as atletas que vão brigar pela medalha na patinação artística. Com uma apresentação quase perfeita no programa curto, saltou para o topo da classificação e avançou para a disputa do programa longo, na quinta (17).

Kamila fez a melhor apresentação do dia e liderou o pelotão russo nas primeiras colocações. Ela ficou à frente das compatriotas Anna Shcherbakova, com 80,20, em segundo lugar, e Alexandra Trusova, com 74,60, em quarto. Apenas a japonesa Kaori Sakamoto, com 79,84, se colocou no meio das atletas russas, em terceiro.

A princípio, entre as 30 patinadoras inscritas, as 24 melhores seguiriam para o programa longo. Mas, por conta do caso de Valieva, o Comitê Olímpico Internacional (COI) aumentou o número de classificadas para 25. Além disso, a prova pode terminar sem pódio caso a atleta acabe entre as três primeiras colocadas. Também por decisão do COI, a premiação foi suspensa até que o caso chegue a um desfecho.

Valieva se apresentou ao som de “In Memoriam”, de Kirill Richter. Em uma performance cheia de elementos difíceis, a russa encantou o público mais uma vez. Com apenas uma falha no primeiro movimento, mas sem ir ao chão, garantiu a classificação para o programa longo com sobras. É importante lembrar que o COI não permite saltos quádruplos, um dos movimentos mais bem executados pela russa, no programa curto.

A jovem patinadora deixou a pista muito emocionada. Sob aplausos, esperou pela nota, mas com a garantia de que iria avançar. Ao receber a nota de 82,16, que lhe garantia o primeiro lugar até ali, foi mais uma vez ovacionada.

A defesa de Kamilia Valieva alega que uma contaminação com um remédio do avô foi responsável pelo resultado positivo no antidoping da patinadora nas Olimpíadas de Pequim. A revelação foi feita por Denis Oswald, advogado veterano que investigou o escândalo de doping nos Jogos de Sochi 2014 e Membro do Conselho Executivo do COI, em entrevista coletiva nesSa terça.

Na última segunda, Valieva foi autorizada a competir na prova individual após a anulação da suspensão provisória pela Corte Arbitral do Esporte (CAS). O fato de Valieva ter 15 anos pesa, e a CAS entende que há menos dano em liberá-la para competir e, eventualmente, caso seja julgada culpada, anular qualquer resultado posteriormente.

Diante do imbróglio, o COI decidiu que nenhuma cerimônia de medalhas com Valieva será realizada. Isto também se aplica à premiação da disputa por equipes, a primeira concluída em Pequim no programa da patinação artística e vencida pelo Comitê Olímpico Russo com desempenho histórico da adolescente. Na prova, a patinadora encantou o mundo com seus saltos quádruplos.

Caso 

Na quarta-feira (9) da semana passada, os jornais russos RBC e Kommersant informaram que a estrela adolescente da patinação Kamila Valieva teria sido pega no exame antidoping com a substância trimetazidina (trimetazidine), um medicamento para angina que tem função vasodilatadora.

No mesmo dia, o COI decidiu adiar a cerimônia de entrega de medalha na patinação artística feminina. Sem dar detalhes, o porta-voz da entidade afirmou que o atraso atendia a um pedido formal da Federação Internacional de Patinação.

Passados dois dias desde que a suspeita de doping havia estampado os jornais, a Agência Internacional de Testagem (ITA, na sigla em inglês) confirmou o doping da patinadora russa na sexta (11). Valieva testou positivo em 25 de dezembro, em teste feito durante o Campeonato Russo de Patinação Artística. A contraprova feita com a mesma amostra, em 8 de fevereiro, também deu positivo.

Apesar do resultado, a Agência Antidoping da Rússia (Rusada) retirou a suspensão preventiva da atleta. A ITA, em nome do COI, decidiu recorrer na CAS contra a decisão. Os Estados Unidos, segundos colocados na prova por equipes, atrás do ROC, ameaçaram processar os russos envolvidos no caso. Pelo fato de Valieva ser menor de idade, a Rusada iniciou uma investigação sobre a equipe da patinadora. Segundo a agência russa, o objetivo da investigação é identificar todas as circunstâncias de uma possível violação da regra antidoping no interesse de uma “pessoa protegida”.

No sábado (12), a técnica da patinadora, Eteri Tutberidze, admitiu que a situação era “muito controversa e difícil”, mas reforçou que a atleta é inocente. No mesmo dia, a Rusada soltou um comunicado oficial dizendo que o laboratório sueco responsável pelas análises teria demorado para dar os resultados por conta do surto da variante ômicron da covid.

Na última segunda (14), o caso ganhou novo episódio, com a liberação autorizada pela CAS para que Valieva possa competir na prova individual. A decisão foi tomada após uma reunião de mais de seis horas.

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