A dor lombar é a principal causa de incapacidade em todo o mundo, afetando cerca de 540 milhões de pessoas, mas os pacientes insistem em adotar tratamentos inadequados, como analgésicos, exames e até cirurgia. Agora, uma série de artigos publicados na revista “The Lancet” recomenda quais diretrizes devem ser seguidas pelos profissionais de saúde, derrubando mitos como atribuir ao repouso um “poder de cura”.
No Brasil, cerca de 26 milhões de pessoas — o equivalente a 13% da população — sofrem de lombalgia. Trata-se da segunda condição de saúde mais comum no país, ficando atrás Dor lombar é mais recorrente em adultos em idade ativa; especialistas afirmam que divulgação de orientações sobre tratamentos reduziria afastamento do trabalho.
Os 33 autores dos estudos, distribuídos em 12 países, recomendam que a dor lombar seja administrada na atenção primária. A linha de tratamento deve começar por orientações para que os pacientes mantenham-se ativos, inclusive no trabalho. No entanto, muitos buscam atendimento nos departamentos de emergência nos hospitais, onde realizam exames desnecessários, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, e são incentivados a se ausentar do emprego.
“Na emergência do hospital, o paciente precisará competir com pessoas que sofrem de outros traumas, e o médico não terá tempo para lhe dedicar a atenção necessária”, explica Lucíola Menezes Costa, professora do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da Unid (Universidade Cidade de São Paulo) e coautora do estudo, onde pesquisou casos registrados em toda a América. “Apesar do conhecimento científico sobre a lombalgia ter evoluído muito nos últimos anos, os profissionais de saúde permanecem fazendo uso excessivo de exames de imagem sem necessidade, além de intervenções que não são baseadas nas melhores evidências científicas”, lamenta Lucíola. “Ao contrário do que se pensava, o repouso não é benéfico. Pelo contrário, experimentos demonstraram que esse recurso pode intensificar a dor.
Avanços
O registro de lombalgias aumentou em mais de 50% desde 1990 e deve aumentar ainda mais nas próximas décadas à medida que a população envelhece, já que a dor afeta principalmente os adultos em idade ativa. De acordo com o estudo “Global Burden of Disease”, publicado no ano passado, a dor lombar é a principal causa de incapacitação em quase todos os países de alta renda, assim como na Europa Central, no Leste Europeu, no Norte da África, no Oriente Médio e em parte da América Latina.
A maioria dos episódios é de curta duração, com pouca ou nenhuma consequência, mas uma em cada três pessoas registrarão novos casos em menos de um ano. Além disso, a lombalgia é cada vez mais entendida como uma condição duradoura.
A auxiliar de enfermagem Rita de Cassia Lopes, de 65 anos, sente constantemente dor nas costas. Por esse motivo, chegou a ficar mais de um ano afastada do trabalho por conta do problema. O incômodo, segundo ela, é crônico, e teria sido provocado porque carrega peso todos os dias em seu emprego. Por isso, não abre mão de anti-inflamatórios e fisioterapia e é adepta de terapias complementares, como acupuntura e massagens.
“Tenho artrite reumatoide e hérnia de disco que me impossibilitam de fazer alguns exercícios. É uma dor insuportável, que tem piorado com a chegada da idade”, conta. “Quando não estou em crise, procuro fazer caminhada. Mas, quando trava, não tem jeito”.
Para Selma Merenlender, presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro,
os pacientes usam remédios indiscriminadamente porque estão em busca de uma “pílula milagrosa, que resolverá um problema sem que precisem fazer esforço”.
“O analgésico afastará a crise aguda, mas a causa da dor continuará existindo, e a recaída virá logo depois”, sublinha. “Por isso recomendamos que a pessoa que passa o dia em frente ao computador levante em intervalos regulares, caminhe, beba água. Muitas empresas já disponibilizam ginástica laboral e alongamento. E quem exerce algum tipo de atividade que exige levantar peso deve usar uma cinta. O fortalecimento da postura começa com atividades dentro da água, como hidroginástica e natação. Por último, o paciente pode evoluir para exercícios que exigem mais resistência, como pilates e musculação.”