A farmacêutica Sanofi Medley anunciou o recolhimento voluntário e preventivo de três formulações de medicamentos com o princípio ativo losartana do mercado. A ação foi determinada após serem encontradas impurezas nos comprimidos que podem causar mutações e aumentar o risco de câncer.
A interrupção do tratamento com losartana, usada em casos de pressão alta e insuficiência cardíaca, pode trazer riscos para a saúde, conforme alertou inclusive a farmacêutica. Veja a seguir quais são esses riscos e o que os pacientes que fazem o uso da droga precisam saber agora.
1) O que é a losartana e para que ela é usada?
A losartana é uma medicação anti-hipertensiva, ela tem como intuito baixar a pressão do paciente. Ela é usada para tratar pressão alta e insuficiência cardíaca (condição em que o músculo do coração fica enfraquecido e não consegue bombear sangue adequadamente).
“As doenças cardiovasculares estão entre as principais causa de óbitos no mundo. A gente usa essa medicação anti-hipertensiva com o intuito de controlar a pressão e fazer com que ela fique em níveis aceitáveis que reduzam riscos para os pacientes”, explica Ítalo Menezes Ferreira, cardiologista do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do Hospital Israelita Albert Einstein.
Existem algumas classes de medicamentos anti-hipertensivos; os bloqueadores e receptores de angiotensina (hormônio que aumenta a pressão arterial) são um dos principais e mais utilizados. Dentro da classe desses bloqueadores, existem vários medicamentos, entre eles a losartana.
“Esses são remédios utilizados há décadas. São remédios importantes que além de oferecerem um adequado controle da pressão, são medicamentos extremamente seguros e que trazem proteção cardiovascular”, ressalta João Fernando Monteiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
2) Por que a Medley está recolhendo os remédios?
A Sanofi Medley informou que está recolhendo do mercado três formulações de medicamentos com o princípio ativo losartana porque foram encontradas impurezas nos comprimidos que podem causar mutações e aumentar o risco de câncer.
O recolhimento engloba todos os lotes dos produtos da Sanofi/Medley:
— losartana potássica + hidroclorotiazida 50 mg + 12,5 mg
— losartana potássica + hidroclorotiazida 100 mg + 25 mg
— losartana potássica 50 mg e 100 mg
Segundo a Anvisa, as impurezas, chamadas de nitrosaminas, foram detectadas pela primeira vez em 2018, em um alerta global que envolveu agências reguladoras de todo o mundo.
Ainda de acordo com a Anvisa, em níveis normais, esses compostos, comumente encontrados na água, em alimentos defumados e grelhados, laticínios e vegetais, são seguros e trazem um risco baixo à saúde da população.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também pontuou que, “até o momento, não foram relatados problemas semelhantes em outros medicamentos pertencentes à classe de bloqueadores dos receptores de angiotensina ou mesmo de losartana em monoterapia ou combinação por outras indústrias farmacêuticas”.
3) O que a interrupção do tratamento ocasiona?
A Sanofi Medley anunciou que a “interrupção abrupta do tratamento” com losartana tem riscos.
“O risco para a saúde de descontinuar abruptamente estes medicamentos sem consultar os seus médicos ou sem um tratamento alternativo é maior do que o risco potencial apresentado pela impureza em níveis baixos”, afirmou a empresa.
4) Pacientes precisam interromper o tratamento? Existem outras opções no mercado?
Os especialistas ouvidos pelo g1 ressaltam que os pacientes NÃO devem interromper o tratamento da hipertensão, mas sim procurarem orientação médica.
“O paciente deve procurar seu médico, verificar se o seu lote é um desses recolhidos. Se for o caso, trocar por outro lote ou fabricante, mas nunca interromper o tratamento”, diz o presidente da SBC.
Os especialistas acrescentam que existem diversas classes de medicamentos anti-hipertensivos que podem substituir a losartana e que somente a orientação médica é capaz de avaliar a droga que deverá ser ajustada de acordo com o perfil do paciente.
“A população não deve ficar assustada nem desesperada. Pelo contrário, há todo o apoio da sociedade médica para fazer a procura do serviço de saúde e ajuste de suas medicações. Nunca pare o tratamento, sempre procure orientação médica antes”, alerta o cardiologista Ítalo Menezes Ferreira.