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Lula adota linha direta com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados para aprovação de temas de interesse do governo

Planalto tenta organizar a base ‘de cima para baixo’. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Sem ter encontrado em quase dois anos e meio de mandato um modelo de articulação política que garanta conforto no Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aposta agora na relação direta com os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A nova dinâmica deixou com a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), nome de confiança de Lula, a incumbência de lidar com os líderes partidários, em uma tentativa do Palácio do Planalto de organizar a base “de cima para baixo”.

Apesar de ser um gesto de aproximação com o Legislativo, há muito esperado por congressistas, permanecem queixas de dirigentes partidários do Centrão, que gostariam de ter mais interlocução.

Sinais desse novo formato se dão na própria agenda do presidente, que só neste ano já levou Alcolumbre para três viagens internacionais — o senador só assumiu novamente o cargo há quatro meses. O presidente do Senado foi recentemente à China com Lula. Antes, ao lado de Hugo Motta, acompanhou o petista em missões ao Japão e ao Vietnã, além de comparecer ao Vaticano para o funeral do Papa Francisco.

Pauta do governo

O Planalto deseja que o Congresso aprove a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil por mês; a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que será relatada por um parlamentar da oposição e deve passar por mudanças; além de travar o projeto que anistia os envolvidos no 8 de Janeiro, sobre o qual há um debate para trocar o perdão por redução de penas.

Com uma série de reveses desde o início do mandato que tiveram o endosso de parlamentares de siglas com ministérios, Lula fez uma mudança na articulação política no início do ano ao escalar Gleisi para a vaga de Alexandre Padilha.

Em momentos deste ano em que foi exigido um esforço da articulação, a pasta liderada por Gleisi teve dificuldades. Ela, por exemplo, não conseguiu impedir que o requerimento de urgência para o projeto da anistia reunisse as assinaturas necessárias. O assunto só ganhou uma trava com a atuação de Motta, um dia depois de ele ter se reunido com Lula.

Na mesma toada, a saída de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações e as negociações para que o União Brasil indicasse o substituto foram tocadas principalmente entre Lula e Alcolumbre. Gleisi chegou a anunciar que o líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, seria ministro, mas o deputado recuou, gerando constrangimento.

Por ora, os dirigentes partidários não estão na lista de prioridades do Planalto. Gleisi tem trabalhado com os líderes das bancadas nas Casas, como os deputados Antonio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Pedro Campos (PSB-PE), assim como presidentes de comissões e outros parlamentares do Centrão.

Partidos

O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, disse que só esteve com ela uma vez desde que a petista assumiu o ministério e que nunca aconteceu uma reunião individual. O encontro mencionado aconteceu durante um almoço com ela e integrantes do partido no início de abril.

Além de Rueda, Alcolumbre estava presente. Na ocasião, o presidente do União pediu que a ministra recebesse com regularidade presidentes de partidos. Em resposta, segundo ele, recebeu a promessa de que esses encontros seriam mais frequentes.

“É um caminho para a articulação, já que os dois (Alcolumbre e Motta) têm a pauta. Mas o melhor para qualquer governo é tornar o diálogo mais amplo”, disse Rueda.
Integrantes do Centrão dizem que há uma insatisfação por conta da resistência do governo em fazer uma reforma ministerial e que isso é o principal empecilho para que Gleisi receba os dirigentes.

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