O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu iniciativas da equipe econômica do governo que buscam elevar a arrecadação federal por meio da elevação de tributos, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Em entrevista ao podcast Mano a Mano, o petista afirmou que o aumento da tarifa pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “não tem nada de mais”.
O presidente também reconheceu o impacto negativo do esquema de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na imagem do governo, mas disse que os descontos indevidos tiveram início no governo Jair Bolsonaro e foram descobertos pela atual gestão. A entrevista, conduzida pelo rapper Mano Brown e pela jornalista Semayat Oliveira, foi gravada no último domingo (15) e publicada na madrugada desta quinta-feira (19).
Lula deu a declaração sobre o IOF, portanto, um dia antes de a Câmara dos Deputados acelerar um projeto para derrubar o novo decreto de Lula sobre o imposto – o qual estabeleceu uma elevação mais branda do tributo. A aprovação do regime de urgência foi uma derrota para o governo.
Ao podcast Mano a Mano, Lula minimizou o impacto do aumento do imposto, e disse que a equipe econômica tem buscado cobrar imposto de quem tem renda mais alta. Ele citou, por exemplo, a intenção do governo de aumentar a taxação das bets.
“O IOF do Haddad não tem nada de mais. O Haddad quer que as bets paguem imposto, as fintechs, os bancos, pagar um pouquinho só, para a gente fazer a compensação. Porque toda vez que a gente vai ultrapassar o arcabouço fiscal [rega que limita despesas] a gente tem que cortar no Orçamento. Então, se eu tiver que cortar R$ 40 bilhões em obras, saúde e educação, o IOF é para fazer essa compensação”, disse.
“Essa briga nós temos que fazer, não dá para a gente ceder toda hora. Essa briga temos que fazer”, completou Lula.
Lula disse que essas medidas são necessárias para dar condições mais dignas para a população de baixa renda.
INSS e avaliação do governo
Na entrevista, Lula também comentou os descontos indevidos feitos por associações em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS. O petista ressaltou que as irregularidades começaram na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro e que foi descoberta por investigações da Controladoria-Geral da União e da Polícia Federal no atual governo, no qual as ilegalidades continuaram a ocorrer. Lula disse novamente que os prejudicados receberão o dinheiro de volta e que os responsáveis estão sendo identificados e serão devidamente punidos.
Na entrevista ao Mano a Mano, o presidente reconheceu que a crise no INSS impacta negativamente a avaliação do governo.
“Foi descoberto no nosso governo, então, cabe a nós explicarmos para a sociedade os fatos como eles são. Se nós não estivéssemos no governo, certamente isso poderia não ser descoberto. Foi no governo Lula que foi descoberta a maracutaia do governo Bolsonaro”, disse.
Pesquisa Ipsos-Ipec divulgada nessa semana apontou que 54% dos brasileiros consideram ruim ou péssima a resposta do governo Lula às fraudes.
“Pesquisa é uma fotografia do momento em que é feita […]. A gente não comunicou corretamente. As pessoas não sabem das coisas que nós fizemos. Se as pessoas não sabem, não tem por que aprovarem o governo. Quando sai uma denúncia de corrupção no meio do meu governo, é normal que num primeiro momento as pessoas pensem que foi no governo Lula. Nós temos consciência do que aconteceu porque foi a PF e a CGU que levantaram a denúncia e o povo brasileiro que vai pagar”, acrescentou.
Orçamento secreto
Lula também disse que o governo Jair Bolsonaro, por “incompetência”, permitiu que o Congresso Nacional controlasse metade do Orçamento da União.
E disse que é muito difícil acabar com o mecanismo que ficou conhecido como “orçamento secreto” porque não o governo não tem uma maioria no Congresso. Nesse momento, ele fez críticas a deputados do PT.
“Eu não sei se os deputados do PT queriam acabar com o orçamento secreto, tá? É importante dizer isso. Mas nós fizemos um acordo que grande parte das emendas parlamentares é dirigida a programas do governo. Antigamente, o deputado não precisava falar com o ministro para liberar emenda. Houve uma certa moralização dessa relação do Legislativo com o Executivo”, afirmou.
Eleições e outros temas
Na entrevista, Lula também disse que quer ser candidato à reeleição para derrotar a extrema-direita e comparou o Brasil que encontrou após o governo Jair Bolsonaro à Faixa de Gaza, diante do que chamou de “destruição” de políticas públicas implementadas nos seus dois primeiros governos.