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Lula diz que foi vítima de uma “mentira jurídica”

Lula abriu seu discurso prestando solidariedade às famílias das vítimas de Covid-19. (Foto: Ricardo Stuckert)

Liberado para disputar as eleições de 2022 após ter suas condenações relacionadas à Operação Lava-Jato anuladas pela Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez de seu primeiro pronunciamento nesta quarta-feira (10). Ao longo de duas horas, em fala transmitida ao vivo pela internet, rádio e tevê, Lula afirmou que foi vítima de uma “mentira jurídica”.

O petista disse também não estar ‘bravo” nem “magoado” com sua prisão. “Sei de que fui vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Sei que minha mulher Marisa morreu por causa da pressão” que, segundo o presidente, teria desencadeado o acidente vascular cerebral em Marisa Letícia. Ele citou o fato de ter sido proibido de acompanhar o enterro de seu irmão durante o cárcere. “Se tem brasileiro que tem razão de ter muitas e muitas mágoas, sou eu. Mas não estou”.

Lula abriu seu discurso prestando solidariedade às famílias das vítimas de Covid-19. “Sei o que minha família passou. Que a Marisa morreu. Poderia estar magoado. Mas não estou. A dor que sinto não é nada diante da dor que sofrem hoje milhões de brasileiros”, afirmou Lula. “A dor que eu sinto não é nada perto do que sentem os familiares das quase 270 mil vítimas do coronavírus”, disse o ex-presidente.

Lula lamentou a explosão de mortes por Covid-19 no Brasil e condenou o que considera uma naturalização da tragédia. “Noite passada, esse vírus matou quase 2 mil pessoas. As mortes estão sendo naturalizadas, mortes que poderiam ser evitadas se tivéssemos um governo para fazer o elementar”, denunciou Lula.

Lula ressaltou que, diante da gravidade da crise, é dever do governo federal criar um gabinete de crise, reunindo ministérios, governadores, comunidade científica para “toda a semana, orientar a sociedade sobre o que fazer” e “priorizar dinheiro para comprar vacinas de qualquer lugar”. Segundo Lula, “[o presidente Jair] Bolsonaro não sabe o que é ser um presidente”.

Para ele, não se deve discutir dinheiro para vacinas, que são uma questão de amor à vida e não do culto às armas. “Vou tomar minha vacina, não importa de que país, se é duas ou uma”, afirmou o ex-presidente, que garantiu que vai fazer propaganda para a vacina.

“Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente ou do ministro da Saúde. Tome vacina”, pediu Lula.

O ex-presidente também fez um apelo: “Não tenham medo de mim”, disse Lula. “Eu sou radical. Eu sou radical porque eu quero ir à raiz dos problemas deste país. Eu sou radical porque eu quero ajudar a construir um mundo justo, um mundo mais humano, um mundo em que trabalhar e pedir aumento de salário não seja crime. Um mundo onde a mulher não seja tripudiada por ser mulher, um mundo em que as pessoas não sejam tripudiadas por aquilo que querem ser. Um mundo onde a gente venha a abolir, definitivamente, o maldito preconceito racial. Um mundo que não tenha mais bala perdida. Um mundo em que o jovem possa transitar livremente pelas ruas de qualquer lugar sem a preocupação de tomar um tiro. Um mundo em que as pessoas sejam felizes onde quiserem ser. Que as pessoas sejam o que eles decidirem. Um mundo em que a gente tenha de respeitar a religiosidade de cada um. Cada um é o que quer. As pessoas podem ser LGBT e a gente tem que respeitar o que as pessoas fazem”, afirmou.

Na segunda-feira (8), o ministro Luiz Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou a anulação de todas as decisões tomadas pela 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) nas ações penais contra o ex-presidente Lula. Como consequência, ficam anuladas as condenações proferidas.

O ministro ordenou que os casos sejam reiniciados na Justiça Federal do Distrito Federal. Na avaliação de Fachin, as ações não poderiam ter corrido em Curitiba, porque os fatos apontados não têm relação direta com o esquema de desvios na Petrobras. O ministro lembrou que diversos processos deixaram a Vara do Paraná ou mesmo seu gabinete pelo mesmo motivo, desde o início da Operação Lava Jato. O primeiro deles foi o caso Consist (Inq 4130). “Com as recentes decisões proferidas no âmbito do Supremo Tribunal Federal, não há como sustentar que apenas o caso do ora paciente deva ter a jurisdição prestada pela 13ª Vara Federal de Curitiba. No contexto da macrocorrupção política, tão importante quanto ser imparcial é ser apartidário”, afirmou.

Em um dos pontos, Fachin lembra que as acusações contra Lula envolviam muito mais empresas do que a Petrobras. “A conduta atribuída ao ora paciente, qual seja, viabilizar nomeação e manutenção de agentes que aderiram aos propósitos ilícitos do grupo criminoso em cargos estratégicos na estrutura do Governo Federal, não era restrita à Petrobras S/A, mas a extensa gama de órgãos públicos em que era possível o alcance dos objetivos políticos e financeiros espúrios.”

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