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Lula e ministros fazem críticas a Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo

Governador do Estado não participou de cerimônia para assinatura de acordo para remoção de famílias de favela na região central da capital. (Foto: Cláudio Kbene/PR)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros usaram um anúncio habitacional na última quinta-feira (26), na favela do Moinho, na capital paulista, para fazer críticas indiretas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), eventual adversário do petista na eleição presidencial de 2026.

No evento, sem a presença de Tarcísio, Lula e integrantes do governo federal reclamaram da atuação da Polícia Militar contra moradores da comunidade e rebateram declarações de representantes da gestão estadual contra o governo petista.

A favela do Moinho, localizada na região central da capital, fica em um terreno da União, que será cedido ao governo estadual para a construção de um parque. A comunidade é considerada a última da região central, em uma área que é alvo da especulação imobiliária.

As cerca de 900 famílias que vivem no local serão atendidas por uma parceria entre os dois governos, que dará moradias no valor de até R$ 250 mil, sendo R$ 180 mil custeados pela gestão federal e R$ 70 mil pelo governo paulista. Até a compra da casa, as famílias receberão um aluguel social de R$ 1.200 mensais, bancado pelo governo paulista e pela prefeitura da capital.

No evento, o presidente assinou duas portarias: uma regulamenta quem terá direito às novas moradias e outra dá início ao processo de cessão do terreno federal para o governo estadual.

Ao discursar num palanque no meio da favela, sem a presença de Tarcísio nem de secretários estaduais, Lula disse esperar que o governo do Estado cumpra o acordo feito com a gestão federal, para a retirada pacífica das famílias, e não “enxote” os moradores da favela. O presidente destacou que só vai ceder totalmente o terreno da União para o governo Tarcísio se a gestão estadual “tratar com dignidade” as famílias que vivem na comunidade.

“Essa portaria não é fazendo ainda a cessão do governo para o governo do Estado. Porque a minha preocupação é que se a gente fizer cessão, e eles tiverem que ocupar isso aqui amanhã, vão utilizar outra vez a polícia e vão tentar enxotar vocês sem vocês conseguirem o que quiserem”, disse o presidente. “Muita atenção para que ninguém tente enganar vocês”, afirmou Lula.

O presidente disse ter pedido aos ministros Jader Filho (Cidades) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) para ficarem em contato direto com lideranças da comunidade, para monitorar eventuais ações violentas na saída das famílias do local. “Qualquer tentativa de engodo com vocês, qualquer tentativa de enganar a gente tem que saber para não permitir que vocês sejam maltratados”, disse.

Lula afirmou que o governador foi convidado a participar do anúncio do programa conjunto entre as duas gestões, mas optou por não ir. Tarcísio marcou no mesmo dia a entrega de unidades habitacionais em São Bernardo do Campo, reduto político do presidente petista, no fim da manhã. À tarde, o governador foi para Lagoinha, no Vale do Paraíba. “O governador [Tarcísio] foi convidado para vir aqui. Se ele não veio… parece que ele tem compromisso em São Bernardo do Campo. Porque todo lugar que eu vou convido governador.”

Em seguida, ressaltou que quem “está no comando” das ações na comunidade é o governo federal. “Só quero que vocês saibam que agora estão sob cuidado do governo federal e vamos respeitar vocês”, disse.

No início de seu discurso, Lula rebateu críticas feitas por integrantes da gestão estadual, como o vice-governador Felicio Ramuth (PSD), que chegou a dizer que o governo federal não estava apoiando a retirada das famílias da comunidade por supostamente “estar do lado do crime organizado”. Segundo o governo paulista, a comunidade onde vivem cerca de 900 famílias era usada por traficantes para “abastecer” a cracolândia, no centro de São Paulo.

“O que mais me incomodou […]foi dizer que o governo federal estava protegendo o crime organizado. Na cabeça de muita gente da elite brasileira pobre e gente que mora na favela são sempre considerados bandidos. Não tratam como trabalhadores, pessoas que querem ter o direito de ser feliz,
trabalhar”, disse o presidente.

Lula citou os planos do governo do Estado de fazer um parque no local e disse que a mudança “não pode ser feita às custas do sofrimento de um ser humano”. “É importante que as pessoas que querem visitar esse parque não venham pisotear sangue de pobres que foram agredidos para que fizessem [o parque]”, disse o presidente, defendendo a “decência” nas ações do governo e da PM. (Com informações do Valor Econômico)

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