A vida é uma passarela pela qual passamos e voltamos e retornamos, a cada temporada, diferentes.
Peguei-me pensando sobre isso enquanto apresentava as debutantes do ano de 2023 do clássico clube Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre. Clube no qual eu, muito antes de ser Ali, debutei também.
Enquanto chamava cada uma das meninas e as via deslizar com seus vestidos brancos, cabelos longos e aquele sorriso inocente de quem tem uma vida inteira pela frente, rodopiavam mil e uma elocubrações pela minha cabecinha (que, aliás, estava lindamente adornada por penteado, make, joias porque não tenho mais 15 anos e de boba, tenho nada, né?). Foi emocionante reencontrar amigos, agora na condição de pais e mães. Poder chamar cada família e honrar as suas histórias nesse momento de celebração. Sinceramente, fico tocada em saber que faço, agora, parte das histórias de vida dessas pessoas (ou seja, vocês não poderão esquecer de mim! Kkkkk).
Porem, primordialmente, há algo que nos atinge na percepção da passagem do tempo… porque a minha perspectiva passou de ser a menina centro das atenções para a dos pais, que admiram a sua própria criação.
Eu mesma me pego, embasbacada, admirando as habilidades dos meus filhos. O desempenho em campo. As façanhas nas salas de aula. De certa forma, ao botarmos filhos no mundo, precisamos estar preparados para nos tornamos coadjuvantes da vida em vários momentos. E, convenhamos, nem sempre isso é fácil.
É preciso ser um adulto bem resolvido para compreender que a vida flui e que certos momentos passaram. Você não será mais a debutante. Você não será mais a noiva (considerando um único casamento, tá? A Gretchen que não me ouça!). Você não será mais a gravidinha. Você não será mais, enfim, o centro das atenções dos grandes marcos da vida porque… você já o foi. Ou seja, você já passou!
“Aiiiii, Ali, que deprimente essa constatação”.
Será? Será mesmo? Não é simplesmente uma dádiva ter VIVIDO e poder estar aqui para reviver com quem amamos novos momentos? Mais do que isso, poder admirar a passagem do tempo com a sabedoria que angariamos pelo caminho… e voltar, a cada nova temporada, mais rico com o acúmulo de VIDA que carregamos no decorrer.
As pessoas têm medo de envelhecer. Eu também tenho. Mas a única verdade inexorável é a morte. E a única forma de não morrer jovem é ficando velho mesmo. É tão tão simples que assusta. A questão ê o que faremos com esse tapa de realidade constante.
Eu já sei: vou viver a minha maturidade celebrando a passagem do tempo com alegria. Enaltecendo a passagem do bastão da vida, enquanto meninas desfilam com seus vestidos brancos e são ajudadas pelas mãos jovens dos seus pares, sob os olhares de pais orgulhosos e de um mundo inteiro, enfim, no aguardo dos seus feitos, carregando o fardo que a sociedade ainda impõe no cumprimento de certos compromissos: estude, arranje um emprego, case, ganhe dinheiro, tenha filho, tenha outro filho, não necessariamente nesse ordem.
Não é fácil ser jovenzinho. Fiquei até cansada. A Aline de 15 anos não tinha a mínima ideia do que teria que passar para, enfim, poder entender que tem tanta coisa desnecessária nessa estrada…
E, então, volto para casa à meia-noite – não porque seja a Cinderela, mas porque não tenho mais “saúde” para dançar madrugada adentro – e retomo a minha jornada de uma mulher de quarenta que tem muito, muito ainda a entregar para o mundo. Mas só depois de vestir meu pijama, minhas pantufas e entregar-me à paz inigualável do meu vinho, no meu lar, com meus amores.
Ah, a paz de já ter passado por tudo aquilo!… a vantagem de chegar até aqui ê pensar: “a minha parte está cumprida. Agora, é só aproveitar.” Sem precisar usar branco. Sem precisar de apresentações ao mundo. Ele já te conhece. Basta seguir surpreendendo-o. Ou melhor, surpreendo a si mesma porque, a essas alturas, já não devemos mais nada a quase ninguém. Renovada a cada passagem pela passarela da vida, talvez com mais rugas (alô toxina botulínica!), mas também com mais segurança e, definitivamente, com menos “peso” de expectativas. Apenas amor. Amor e brilhos, claro, porque, senão, a passagem fica opaca – e isso nós não queremos, não é verdade?
