O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) , que neste ano trouxe questões sobre feminismo e teve como tema da redação a violência contra as mulheres, não respeitou o direito de uma estudante de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Ela diz que foi impedida de sair da sala para amamentar a filha de apenas oito meses. A estudante Pâmela Rodrigues Ximenes, 20 anos, foi no último sábado (24), primeiro dia de prova, até a Unigran (Universidade de Grande Dourados) para fazer o exame com a bebê e a irmã, que ficaria cuidando da menina em uma sala próxima.
Desinformação.
Ela disse que perguntou aos fiscais onde elas ficariam e eles não souberam responder. “Parecia que estavam perdidos”, relatou a candidata, que colocou na ficha de inscrição a informação de que é lactante. “Depois colocaram ela e a minha filha na sala dos professores, uma sala pequena e quente com outros bebês e acompanhantes”, descreveu Pâmela.
A estudante afirma que logo a filha começou a chorar e a irmã pediu para ir ao pátio para acalmá-la, mas foi impedida. Ela teria escutado a filha chorar e pediu para ir até ela. “Quando finalmente consegui sair da sala, ela tinha dormido de tanto chorar. Nunca a deixei desse jeito”, lamentou Pâmela. A estudante ainda teria de sair novamente, pois a filha ia acordar com fome.
Revolta.
“Quando pedi para sair para amamentá-la, o fiscal disse que eu tinha acabado de sair e que não poderia me autorizar novamente”, comentou. Mas ela conseguiu sair e resolveu abandonar a prova indignada. “Minha filha estava extremamente nervosa e abalada pelo acontecido. Amamentei e tentei ir novamente para a prova, mas ela chorava muito assustada. Fiquei com raiva e preenchi o cartão de respostas sem ler as perguntas. Terminei e pedi para sair, mas o pedido foi negado novamente.”
Ela diz que explicou a situação para o fiscal e que queria ir embora. “Ele me disse que ainda tinha meia hora para poder sair e que eu tinha que entrar na sala e esperar. Novamente fiquei escutando minha filha chorando. Quando deu o horário, peguei minhas coisas e fui embora”, salientou Pâmela, que nem voltou no domingo (25) para o segundo dia de prova. “Quando vi que o tema era esse [violência contra a mulher], me arrependi de não ter ido, pois escreveria sobre a violência que eu e ela sofremos”, destacou.
“Ao chegar em casa recebo uma mensagem de uma menina que estava na minha sala dizendo que o fiscal ainda debochou de mim para os outros candidatos todas as vezes que eu deixei a sala”, observou.
Pâmela contou que trancou o curso de engenharia civil em uma faculdade particular pois não tem com quem deixar a filha para estudar nem como pagar uma creche. O marido dela, também é estudante e estava prestando o Enem. Ela esclerceu que planejava fazer o Enem para tentar conseguir uma vaga na Universidade Federal, pois tem creche para deixar a menina. “Agora vou tentar prestar o vestibular, mas minhas chances são menores”, lamentou.
Argumentos dos organizadores.
O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pela aplicação do Enem, descreve que o atendimento à lactantes é garantido e está especificado no edital do Enem. Na edição deste ano da prova, 9.598 lactantes solicitaram o atendimento. No Estado do Mato Grosso do Sul, foram 271 atendimentos.
Em nota, o Inep informou que “todas as ocorrências são registradas em ata pelo coordenador do local de provas e posteriormente analisadas pelo Inep. A participante deve registrar a reclamação em nossa Central de Atendimento, pelo telefone 0800-616161”. (Folhapress)
