Em média, cem brasileiros são detidos todo mês ao tentarem entrar ilegalmente nos Estados Unidos pela fronteira com o México, segundo dados oficiais dos últimos sete meses. Os números foram obtidos com a Universidade de Siracusa, que compila as informações fornecidas pela patrulha da fronteira americana, responsável pela segurança na região. No mês de abril, foram 130 brasileiros apreendidos, sendo que apenas dois eram crianças, segundo dados oficiais. O fluxo é menor do que há dois anos, quando se chegou a um pico de 500 brasileiros detidos por mês.
Boa parte deles é deportada imediatamente pelo governo americano: as deportações administrativas, que não precisam passar pela Justiça e têm sido usadas com frequência desde o governo de Barack Obama (2009-17), somam cerca de 60% dos casos. “Essa é a política oficial: prender ou deportar os imigrantes rapidamente”, afirmou a professora Susan Long, coordenadora do projeto Trac, que compila os dados da fronteira. Mas, entre eles, há os que pedem asilo, argumentando que temem por suas vidas caso voltem ao Brasil. Isso aconteceu em pouco mais da metade dos casos de deportação nos últimos meses, e costuma estender o período de permanência dos brasileiros no país, ainda que em prisões de imigração.
Os casos precisam ser avaliados pelas autoridades americanas, que só depois de entrevistar os imigrantes decidem se irão deportá-los ou admiti-los nos EUA. Não há estatísticas sobre quantos deles, de fato, conseguiram dar início ao processo administrativo de asilo. Mas advogados afirmam que a concessão é rara entre brasileiros: nas Cortes de imigração, o percentual não supera 2% dos casos.
O número de brasileiros representa um percentual ínfimo do total de apreensões na fronteira, que atingiu 38 mil pessoas em abril: são cerca de 0,3%. É muito menos do que os mexicanos, guatemaltecos e salvadorenhos. Somadas, essas três nacionalidades representam quase 30 mil pessoas por mês. No caso dos brasileiros, a maioria vem pelo rio Grande, no extremo Leste da fronteira com o México. É por ali que o fluxo de imigrantes ilegais tem aumentado nos últimos anos.
Os dados não incluem brasileiros que tenham se apresentado oficialmente nos postos de entrada na fronteira, com pedidos de asilo. Tampouco incluem as pessoas que conseguem entrar no país, sem serem pegas pelas autoridades de imigração.
Crescimento
O número de imigrantes apreendidos ou barrados na fronteira dos Estados Unidos com o México cresceu 91,6% no primeiro semestre do ano, em relação ao mesmo período de 2017. O dado foi divulgado pelo serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos. Até junho, 268.182 imigrantes foram apreendidos ou considerados inadmissíveis nos EUA. No mesmo intervalo de 2017, foram 139.969.
Para Jeanne Batalova, analista do Instituto de Políticas de Migração, é cedo para atribuir o aumento das apreensões e inadmissões à política de tolerância zero adotada pelo governo do republicano Donald Trump a partir de abril. Ela diz que é preciso colocar os dados do primeiro semestre deste ano em contexto. Embora representem um salto em relação a 2017, os números não destoam tanto se comparados a anos anteriores. Nos seis meses iniciais de 2016, por exemplo, foram 267.746 imigrantes apreendidos ou considerados inadmissíveis. Em 2015, foram 219.480. Batalova explica que a queda registrada em 2017 foi uma exceção. “No ano passado, os números caíram após a posse de Trump, pois as pessoas esperaram para saber que políticas ele iria implementar”, diz.
“Como viram que, apesar das várias declarações e críticas, nenhuma ação foi adotada, o fluxo migratório retornou no segundo semestre.” Para a analista, só em três meses será possível ter dimensão do impacto. “No outono [do hemisfério Norte], quando os números tipicamente aumentam, veremos se há realmente uma trajetória de queda.”
Para ela, alguns fatores podem ser determinantes. “Se houver a percepção de que as condições vão ficar mais intolerantes, essas famílias podem repensar. Algumas, por terem visto a separação de pais e filhos, podem escolher não fazer a travessia”, afirma.
