Uma investigação do Ministério da Defesa da Argentina teria advertido sobre irregularidades na compra direta das baterias do ARA San Juan, submarino desaparecido desde o último dia 15 na região de Mar del Plata, com 44 tripulantes a bordo. A informação foi divulgada ontem pelo jornal argentino “La Nación”, que teve acesso a uma cópia das ações que chegaram secretamente a três escritórios oficiais fazendo o alerta. Além disso, segundo o “Clarín”, um juiz arquivou praticamente sem investigar, em 2010, uma denúncia sobre supostas irregularidades cometidas durante a reparação do San Juan.
Um minissubmarino deixou a cidade de Comodoro Rivadavia, centro logístico de resgate, para ajudar nas buscas. A Marinha argentina admitiu, no sábado (25), não ter nenhum indício da embarcação, que provavelmente explodiu no Atlântico Sul.
Os investigadores teriam alertado o governo de Cristina Kirchner sobre a denúncia. Consultados pelo “La Nación”, representantes do governo de Mauricio Macri disseram que estão revisando “todos os processos dentro da Marinha” e que uma investigação interna “profunda” será aberta.
No entanto, a equipe reiterou que, neste momento, a prioridade é encontrar o submarino para, posteriormente, avaliar o que aconteceu. A denúncia coincide com uma auditoria do Sigen (Sindicato Geral), que também questionou o procedimento.
Segundo a investigação, realizada por especialistas da Defesa entre 2015 e 2016, a Marinha argentina teria violado padrões regulatórios e operacionais para o reparo da meia-vida e substituição de baterias. Ao que tudo indica, houve interesse em beneficiar certos fornecedores e suprimentos com garantias vencidas foram adquiridos.
“As informações coletadas são conclusivas pelo menos para sustentar que não só os contratos não estão em conformidade com o procedimento administrativo regulamentado, mas também que os militares encarregados por esse procedimento podem estar envolvidos em uma conduta ilegal que beneficiou as empresas premiadas, Hawker Gmbh e Ferrostaal AG”, disseram os investigadores da Defesa.
Outra notícia, publicada ontem pelo “Clarín”, indica que o polêmico juiz federal Norberto Oyarbide arquivou, em fevereiro de 2010, denúncia que investigava irregularidades nas tarefas de reparação do submarino San Juan.
Caso apareçam novos elementos, no entanto, o magistrado Sebastián Casanello, agora responsável pela investigação, poderia reabrir o caso. A denúncia foi feita em 2007 pelo suboficial José Oscar Gómez contra o então chefe da Marinha argentina, o almirante Jorge Godoy. De acordo com Gómez, várias irregularidades foram cometidas entre 2005 e 2006, como a contratação de empresas privadas para a manutenção e reativação do submarino. “Na prática, a manutenção foi feita por funcionários da Marinha, e os contratantes teriam recebido grande montante de dinheiro”, escreveu na denúncia.
Salvar Vidas
Quando o desaparecimento do submarino completou 11 dias, o navio Sophie Siem, com capacidade para resgatar 15 pessoas, saiu em busca dos tripulantes, apesar das péssimas condições climáticas.
O navio, que leva um minissubmarino, deve demorar 24 horas para chegar à região onde, segundo a Marinha, seria o local da explosão registrada pouco depois do último contato do ARA San Juan. “A tarefa representou um enorme esforço de milhares de pessoas. Envolvemos toda a comunidade”, disse o chefe do Destacamento Naval de Comodoro Rivadavia, Claudio Ortigueria.
A bordo do Sophie Siem, partiram 15 tripulantes, 43 fuzileiros navais dos Estados Unidos e dois membros da Marinha argentina, além de dois médicos. “Vieram americanos e soldados da Marinha argentina com um só motivo: salvar vidas”, afirmou Héctor Alejandro, oficial de Assuntos Públicos dos Fuzileiros Navais dos EUA.
Ainda ontem, o avião russo Antonov An-124 chegou à cidade com equipamentos e funcionários. Submarinos teleguiados de detecção a máxima profundidade estarão prontos para operar em alguns dias.