O médium João Teixeira de Faria, 76 anos, conhecido como João de Deus, se entregou à polícia e foi preso neste domingo (16). Em um vídeo gravado pela jornalista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S. Paulo, João de Deus falou sobre a rendição. “Me entrego à Justiça divina e à Justiça da Terra”, disse o médium.
O encontro de João de Deus com as autoridades ocorreu na encruzilhada de uma estrada de terra no município de Abadiânia, às margens da BR-060. A negociação foi feita entre o advogado do médium, Alberto Toron, e o delegado-geral da Polícia Civil.
A polícia chegou em três carros. O médium, que estava num sítio, chegou no veículo de um de seus advogados. Minutos antes de se entregar, ele chegou a passar mal. Trêmulo, pediu aos defensores para tomar um remédio sublingual. João de Deus é cardíaco.
Ele é suspeito de ter abusado sexualmente de mulheres durante os atendimentos espirituais que realizava na cidade de Abadiânia (GO).
Denúncias
Em entrevistas ao jornal O Globo e ao jornalista Pedro Bial —exibidas na madrugada do dia 8 de dezembro na TV Globo— mulheres acusaram o médium João de Deus de abusos sexuais que teriam sido cometidos quando elas procuraram a cura espiritual na Casa de Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), onde ele atende milhares de brasileiros e estrangeiros todas as semanas.
Ao todo, Bial e a redatora do programa Camila Appel entrevistaram dez mulheres e ouviram relatos parecidos. O programa, no entanto, mostrou apenas quatro depoimentos por causa do tempo.
Os depoimentos ao programa Conversa com Bial são de três brasileiras que pediram para não serem identificadas e da coreógrafa holandesa Zahira Lieneke Mous, a única que aceitou mostrar o rosto.
A holandesa Zahira contou que conheceu a casa em Abadiânia em 2014, quando buscava a cura para o trauma de ter sofrido abusos sexuais no passado.
Após muitas pesquisas, Zahira sentiu-se a vontade para ir sozinha ao local. Na segunda visita à casa, foi informada que teria uma consulta particular com o médium. “Você se sente especial”, relatou.
Nervosa e chorando, a coreógrafa contou que ficou sozinha com João de Deus e que ele lhe perguntou por que ela estava ali. Em seguida, cheirou-a e pediu-lhe que ficasse de costas, conduzindo-a para um banheiro.
Depois, o médium teria colocado as mãos dela no pênis dele e feito com que elas se movimentassem. Após o abuso, abriu um armário com pedras preciosas e pediu a Zahira que escolhesse uma delas. Em seguida, ela foi levada novamente ao banheiro onde João de Deus a teria penetrado.
A holandesa disse a Bial que não saiu correndo e gritando porque acreditava muito que poderia ser treinada como médium para ajudar as pessoas. O programa mostrou uma foto da época em que Zahira frequentava a casa. Na imagem, ela aparece auxiliando João de Deus nos atendimentos, o que foi considerado um grande privilégio.
Quando deixou a cidade, a holandesa percebeu a gravidade do que havia acontecido, mas desejou que não fosse verdade e negou o fato durante quatro anos.
“Eu tinha muito medo de eles mandarem espíritos ruins, da minha vida se tornar miserável, de não conseguir dormir”, afirmou.
Após um tempo, Zahira entendeu que precisava lidar com esse e outros traumas e decidiu compartilhar a história no Facebook.
Ela ouviu depoimentos de outras mulheres e percebeu que há um padrão nos relatos. As mulheres que denunciam as agressões sexuais contam que foram escolhidas para consultas particulares, tratadas como se fossem especiais e levadas para um cômodo acessado por uma porta lateral do imóvel onde acontecem os atendimentos. O oferecimento de cristais após os abusos era outra prática comum, segundo os depoimentos.