As imagens de um segurança de uma escola americana, no Estado do Kentucky, algemando pelas costas um menino de 8 anos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), porque ele “não parava quieto” chocaram o mundo. Por várias razões. Tanto pela agressividade injustificada do ato em si quanto pela demonstração explícita da mais elevada ignorância.
O segurança extrapolou todos os limites do conhecimento científico. Trabalhando em uma escola, com crianças pequenas, o ato é injustificável.
Alguém poderia imaginar um segurança algemando uma criança com crise de asma e dizendo para ela simplesmente “parar de chiar”? Como se as algemas tivessem o poder de interferir na constituição genética das pessoas?
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, a prevalência do TDAH gira em torno de 3% a 5% da população infantil do Brasil e de vários países do mundo onde o transtorno já foi pesquisado. Nos adultos, estima-se prevalência em aproximadamente 4%. Levantamentos populacionais sugerem que o TDAH ocorre na maioria das culturas em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos.
O TDAH tem uma forte predisposição genética. Isso significa que não há ainda um único gene responsabilizado como causa. Estudos demonstram que vários genes podem estar envolvidos, associados a condições ambientais multifatoriais. Familiares de portadores são de duas a dez vezes mais acometidos que a população geral, por exemplo.
Fato é que esses genes determinam uma alteração na liberação e captação de neurotransmissores (principalmente noradrenalina e dopamina) na região frontal e em suas conexões com o cérebro, transtornando as informações entre as células nervosas, que são os neurônios. Resultado: os comandos de inibição de comportamentos impulsivos ficam prejudicados. Por isso as crianças “não param quietas” e perdem sua capacidade de prestar atenção, de autocontrole, de memória, de planejamento e de organização.
Algemas “curam” a liberação geneticamente determinada de neurotransmissores? Não. Alguém que avise urgentemente isso ao segurança.
Existe tratamento? Sim. E é muito eficaz. Principalmente quando executado por todos os que cercam as crianças com TDAH. Isso quer dizer pais, amigos, familiares, educadores e quem não é nada disso mas está próximo a uma criança portadora, como um segurança de escola, por exemplo.
Os profissionais geralmente mais capacitados são os (neuro)psiquiatras, (neuro)pediatras e neurologistas. Entretanto, em virtude da maioria das comorbidades do TDAH ser de cunho psiquiátrico, o mais comum é que indivíduos com o transtorno procurem um psiquiatra. No caso de crianças e adolescentes, recomenda-se que os profissionais sejam da área da infância e adolescência e experientes no assunto. A medicação, na maioria dos casos, faz parte do tratamento. (AG)