A saída de Juscelino Filho do Ministério das Comunicações jogou luz sobre o vai não vai da reforma ministerial e a disputa interna no União Brasil. Agora, uma ala do partido quer que Juscelino, ao reassumir o mandato de deputado federal, seja líder da bancada na Câmara no lugar de Pedro Lucas Fernandes.
Ao que tudo indica, trata-se de outro conflito à vista porque há um grupo na legenda que deseja fazer oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Escolhido para o cargo no início deste ano, após meses de brigas no partido, Pedro Lucas é agora o nome indicado pela bancada para a vaga aberta com a demissão do ministro das Comunicações.
O grupo político do atual líder é adversário de Juscelino. Com origem no PTB, Pedro Lucas foi presidente da Agência Executiva Metropolitana quando Flávio Dino, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, era governador do Maranhão.
Dino é o relator da investigação sobre Juscelino no STF e será a Primeira Turma da Corte – justamente a que analisa as ações da trama golpista do 8 de Janeiro – que decidirá se torna ou não o ex-ministro réu. A tendência é a aceitação da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República.
Juscelino é acusado de desviar recursos de emendas parlamentares quando exercia o mandato de deputado. O caso envolve até mesmo uma empresa de fachada contratada para obras de pavimentação pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e foi revelado pelo Estadão em uma série de reportagens ao longo de 2023.
Mesmo rachada, a cúpula do União Brasil agiu rápido para estancar a crise e evitar que a saída de Juscelino representasse a desidratação do partido, hoje com três ministérios na Esplanada. O receio era de que o PSD de Gilberto Kassab, já de olho no Turismo, promovesse agora um ataque especulativo sobre o “feudo” das Comunicações.
Lula conversou com Davi Alcolumbre após a Procuradoria-Geral da República denunciar Juscelino ao Supremo e deu sinais de que aceitará a indicação de Pedro Lucas. Mas, como Lula costuma mudar de opinião, a cautela recomenda que se aguarde a volta de sua viagem a Honduras, onde ontem ele participou da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Há tempos o União Brasil tem desagradado ao Palácio do Planalto por não entregar todos os votos prometidos no Congresso. Além disso, a ala próxima a Jair Bolsonaro não abre mão de apoiar o nome que o ex-presidente indicar para a sucessão de Lula, em 2026.
Pedro Lucas é do time que defende uma aliança com o PT no ano que vem. Corre por fora nessa queda de braço o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que se lançou candidato ao Planalto, na sexta-feira passada, mesmo sem o aval do comando do partido. Só que, se o União Brasil formar federação para casar de papel passado com o PP, como planeja, tudo muda de figura. Motivo: ex-ministro da Casa Civil sob Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, não quer acordo com Lula para a eleição presidencial nem respalda o plano de Caiado de ser o desafiante da direita.
Enquanto Lula não diz nem sim, nem não sobre o feirão de cargos cobiçados, o Centrão vê na saída de Juscelino uma chance para conquistar mais cadeiras na Esplanada. Quem entrar agora e quiser se candidatar, no entanto, terá pouco tempo para apresentar resultados porque, pela lei eleitoral, precisará deixar seus postos nos primeiros dias de abril de 2026.
2026. Dos atuais 38 ministros, ao menos 20 já manifestaram o desejo de concorrer a cargos eletivos. Um deles é Waldez Góes, ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, que vai se filiar ao União Brasil para concorrer ao Senado. Góes entrou no governo pelas mãos de Alcolumbre após pedir licença no PDT, mas até hoje não assinou sua ficha.
Cada vez que planejava fazer isso ocorria um escândalo. No ano passado, por exemplo, o partido foi alvo de uma guerra entre o deputado Luciano Bivar, seu antigo presidente, e Antônio Rueda, que ocupou sua vaga. Até denúncia de incêndio criminoso provocado por Bivar compôs o roteiro. Não sem motivo o União é chamado nos corredores do Congresso de “Desunião Brasil”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
