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“Meus meninos são outros depois da cannabis”, garante uma mãe que obteve o direito de cultivar planta para tratar filhos autistas

Família de Campinas cultiva cannabis sativa para tratamento do dois filhos autistas. (Foto: Arquivo pessoal)

“Eu posso dizer que os meus meninos são uma criança antes e [outra] depois da cannabis”. A frase da mãe de dois garotos, de 10 e 7 anos, diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), acompanha a descrição do desenvolvimento dos filhos – com melhora no humor, na qualidade do sono e da interação – a partir do tratamento com óleo rico em canabidiol (CBD), elemento não psicoativo da cannabis sativa.

A mulher e o marido moram em Campinas (SP) e obtiveram, com apoio da Defensoria Pública, permissão judicial para cultivar maconha em casa unicamente para produzir o óleo prescrito para tratamento dos filhos. A família pediu para não ser identificada.

As crianças começaram o tratamento com o óleo de cannabis em abril de 2019. A mãe afirma que ele trouxe resultado que os medicamentos tradicionais nunca alcançaram. No entanto, o alto custo do óleo de cannabis importado (R$ 2,5 mil pelo frasco de 30 ml) e a oscilação na entrega da única associação com permissão para produzir o óleo no Brasil podiam prejudicar o desenvolvimento.

Por isso, a família procurou a Defensoria Pública em maio do ano passado para começar o processo que resultou no habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ-SP) em 16 de junho deste ano. A vitória só veio com recurso em segunda instância, após rejeição na primeira decisão.

“A cannabis não é cura para o autismo, ninguém está falando em cura, mas ela ajudou muito”, pondera a mãe. As duas crianças tomavam, há anos, medicamentos psicotrópicos (que atuam no sistema nervoso central e modificam percepções), anticonvulsivos e suplementos para dormir. Até hoje, ainda fazem uso de parte dos remédios, mas com redução drástica.

Médico psiquiatra e professor da PUC-Campinas, Osmar Henrique Della Torre afirma que o tratamento com o óleo a base de cannabis é promissor e apresenta melhorias aos pacientes. Ele pondera que ainda há necessidade de mais estudos para analisar os efeitos dos canabinoides sobre os transtornos mentais (leia mais da análise ao fim da matéria).

Para a família de Campinas, o tratamento se tornou um aliado que aumentou, segundo a mãe, a felicidade e capacidade de sociabilidade das crianças.

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