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Militares e PSL disputam a sucessão do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno, no governo Bolsonaro

Presidente do PSL entre janeiro e outubro de 2018, Bebianno foi responsabilizado pelos repasses, embora negue irregularidades e que tenha conhecimento dos casos. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

A iminente queda do ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) – diante do agravamento da crise sobre as candidaturas laranjas, caso revelado pelo jornal Folha de S.Paulo – abriu nos bastidores do governo uma disputa sobre o futuro da pasta. Disputam o comando do ministério, localizado no privilegiado quarto andar do Palácio do Planalto, militares e quadros do PSL. O partido do presidente defende que é necessário manter a representatividade das atuais duas pastas no governo.

Pesam contra a legenda, contudo, as suspeitas sobre os repasses de verbas públicas para candidatos laranjas. O PSL tem dois representantes: Bebianno na Secretaria-Geral e no Turismo, Marcelo Alvaro Antonio. Ambos apontados como responsáveis pelas suspeitas do caso.

Há ainda a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro extinguir a pasta, que ficou esvaziada depois que ele remove de sua estrutura tanto a Secom (Secretaria de Comunicação Social) e quanto o PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), que foram para a Secretaria de Governo. Na frente militar, o favorito para assumir é o general Floriano Peixoto, hoje secretário-executivo do ministério. A ideia é que, confirmada a saída de Bebianno, ele passe a ocupar interinamente a função.

Peixoto é general da reserva do Exército e foi comandante da missão no Haiti. Ele chegou a ser indicado por Bebianno para assumir a Secom durante o governo de transição, mas teve seus planos frustrados quando Bolsonaro retirou a secretaria da pasta. À época, o militar chegou a fazer um pente-fino nos contratos de publicidade do governo, promessa de campanha do presidente.

Além dele, um outro militar da reserva está na lista de possíveis ocupantes do cargo, o general Maynard Marques de Santa Rosa, que hoje ocupa a SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) do ministério. Aliados do vice-presidente, general Hamilton Mourão, defendem ainda que seja ele o novo chefe da Secretaria-Geral. Mourão já disse em entrevistas que gostaria de ter uma função administrativa no governo.

Entre essas possibilidades, a indicação do PSL é vista como a menos provável. Há um temor de que as suspeitas envolvendo repasses de verbas públicas a candidatos de Minas Gerais e Pernambuco sejam encontradas em outros Estados do País e a crise se espalhe ainda mais pelo governo.

Como revelou a Folha de S.Paulo em 4 de fevereiro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas, que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que tiveram votações pífias. Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.

Na semana seguinte, outra reportagem da Folha mostrou que o grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. Tanto Bivar quanto o então presidente do diretório de PE, Antônio de Rueda, culparam Bebianno pela liberação dos recursos.

Presidente do PSL entre janeiro e outubro de 2018, Bebianno foi responsabilizado pelos repasses, embora negue irregularidades e que tenha conhecimento dos casos. O episódio levou Bolsonaro chamar o ministro de mentiroso e dizer que ele pode “voltar às origens”. Sua demissão é dada como certa e deve ser publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira (18).

O ministro passou os últimos dias de intensas negociações com aliados do governo e do Congresso, mas viu suas tentativas fracassarem após se reunir com Bolsonaro na última sexta. Ele ficou ofendido com a proposta do presidente para ele assumir uma diretoria da Itaipu, proposta que recusou. Os dois tiveram um diálogo ríspido e Bebianno foi avisado de que deve ser exonerado no início da próxima semana.

Bolsonaro evita comentar o assunto e tenta dar ar de normalidade ao governo, pedindo a seus auxiliares que não falem em crise. O chefe da Secretaria-Geral segue em Brasília e decidiu não apresentar, até agora, uma carta de demissão.

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